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O que distingue as ciências sociais das naturais

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Mensagem por Kusanagi Seg Jun 25, 2012 11:46 am

Pra quem estuda ciências sociais ou tem um mínimo interesse em entender por que o ser humano age como age quando em sociedade, e o porquê de não haver consenso nas ciências sociais a respeito de quase nada; pra quem quer saber por que o Brasil é e sempre será uma merda, e pra quem não tem interesse em saber nada disso também, deixo esse texto excelente extraído do livro "Ação Humana", de Ludwig Von Mises, a quem considero o maior economista do século XX.

O caráter peculiar e único da ciência econômica

A singularidade da economia

O que confere à economia sua posição única e peculiar, tanto na órbita do conhecimento puro quanto na da aplicação prática do saber, é o fato de que os seus teoremas não são passíveis de comprovação ou de refutação com base em experiências. Certamente, uma medida proposta por um raciocínio econômico correto produz os efeitos desejados, e uma medida proposta por um raciocínio econômico equivocado não atinge os objetivos pretendidos. Porém, ainda assim, esses resultados são sempre uma experiência histórica, ou seja, experiência de fenômenos complexos. Não servem para provar ou refutar qualquer teorema econômico.

A adoção de medidas econômicas erradas resulta em consequências não desejadas. Mas esses efeitos não possuem jamais aquele poder de convencimento que nos é propiciado pelos "fatos experimentais" no campo das ciências naturais. Só a razão, sem qualquer ajuda da comprovação experimental, pode demonstrar a procedência ou a improcedência de um teorema econômico.

A consequência nefasta deste estado de coisas é impedir que as mentes menos preparadas possam perceber a realidade dos fatos com que lida a economia. Para o homem comum, "real" é tudo aquilo que ele não pode alterar e a cuja existência tem que ajustar suas ações, se deseja atingir seus objetivos. A constatação da realidade é uma experiência dura. Ensina os limites impostos à satisfação dos desejos. É a contragosto que o homem reconhece que existem coisas — todas aquelas que decorrem de relações causais entre eventos — que não podem ser alterados com base em crenças que decorrem de seus desejos e não de fatos. Não obstante, a experiência sensorial fala uma linguagem facilmente compreensível. Não se pode argumentar contra uma experiência feita corretamente. A realidade de fatos estabelecidos experimentalmente não pode ser contestada.

Mas, no campo do conhecimento praxeológico, nem o sucesso e nem o fracasso falam uma linguagem clara que todos compreendam. A experiência decorrente exclusivamente de fenômenos complexos não consegue evitar interpretações em que os desejos substituem a realidade. A propensão, existente nos homens menos preparados, de atribuir uma onipotência aos seus pensamentos, por mais confusos e contraditórios que sejam, nunca é desmentida pela experiência de forma clara e sem ambiguidade. O economista jamais tem condições de refutar os impostores da mesma maneira que o médico pode refutar os curandeiros e os charlatães. A história só ensina àqueles que sabem como interpretá-la com base em teorias corretas.

A economia e a opinião pública

O significado desta diferença epistemológica fundamental fica mais evidente se nos dermos conta de que a utilização prática dos ensinamentos da ciência econômica pressupõe que eles sejam aceitos e apoiados pela opinião pública. Na economia de mercado, a implantação de inovações tecnológicas necessita apenas de que algum ou alguns indivíduos mais esclarecidos percebam a sua utilidade. Os pioneiros do progresso não podem ser detidos pela obtusidade e pela inépcia das massas; não precisam obter de antemão o apoio das pessoas para os seus projetos; realizam-nos, em que pese serem às vezes motivo de escárnio. Mais tarde, quando produtos novos, melhores e mais baratos surgirem no mercado, esses zombadores correrão atrás deles. O homem, por mais limitado que seja, sabe distinguir a diferença entre um sapato mais caro e um mais barato e apreciar a utilidade de um novo produto.

Mas, no campo da organização social e das políticas econômicas, as coisas se passam de maneira diferente. Nesse terreno, as melhores teorias são inúteis se não tiverem o apoio da opinião pública. Não podem funcionar se não tiverem o apoio da maioria da população.

Qualquer que seja o sistema de governo, não há possibilidade de se governar uma nação de forma duradoura com base em doutrinas rejeitadas pela opinião pública. No final, prevalece sempre a filosofia que tem o apoio da maioria. A longo prazo, um governo impopular não pode subsistir. A diferença entre democracia e despotismo não afeta o resultado final. Afeta apenas a maneira pela qual se processará o ajuste entre o sistema de governo e a ideologia defendida pela opinião pública. Os autocratas impopulares só podem ser destronados por levantes revolucionários, enquanto que governantes democráticos impopulares são pacificamente substituídos na eleição seguinte.

A supremacia da opinião pública determina não apenas o caráter peculiar que a economia ocupa no conjunto do pensamento e do conhecimento; determina o próprio curso da história. As costumeiras discussões quanto ao papel que o indivíduo representa na história são superficiais. É sempre o indivíduo que pensa, age e realiza. As novas ideias e as inovações decorrem sempre de homens excepcionais. Mas esses grandes homens não podem conseguir ajustar a ordem social segundo suas ideias, se não conseguirem convencer a opinião pública.

O florescimento da sociedade humana depende de dois fatores: da capacidade intelectual de homens excepcionalmente dotados e da habilidade desses ou de outros homens para tornar essas ideologias aceitáveis pela maioria.
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Mensagem por HardDisk Seg Jun 25, 2012 8:55 pm

Eu li a primeira parte, mas o cara "embelezou" tanto o texto que eu vou precisar ler de novo com mais calma.

Quem sabe sai uma discussão legal sobre o assunto. Smile

Mas, Jesus, nem Maquiavel enrola tanto.
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Mensagem por Kusanagi Ter Jun 26, 2012 11:16 pm

Creio que seja porque o ser humano é um animal fresco que não gosta de ouvir a verdade nua e crua... fora que a maioria é burra o bastante pra não entendê-la nua e crua, por isso ele tempera, cozinha e decora pra apresentar a quem come.

Resumindo, ele disse que:

1 - Em ciências naturais é possível chegar a conclusões definitivas, já em ciências sociais, não. (ele explica os motivos, dentre os quais)
1.1: Em ciências sociais, não é possível realizar experiências, pois o simplesl fato das pessoas saberem ou desconfiarem que estão participando de uma experiência já afetaria o comportamento delas.
1.1.1: Como não é possível fazer experimentos, só é possível analisar a história à luz de teorias criadas a partir de pressupostos verificados e inegáveis (por exemplo: humanos sentem fome, frio e sono...) e da aplicação da lógica a esses pressupostos (...logo humanos precisam de comida, sono e roupa, logo, eles farão o que for preciso para conseguir essas coisas - felizmente em situações normais não é preciso matar ou roubar para isso).

2 - Como não dá pra ser conclusivo em ciências sociais, e interpretações humanas são sempre limitadas por quem interpreta, a teoria sempre vai estar vinculada à vontade de quem interpreta. Por exemplo, um comunista que sonha com um mundo em que todos sejam tratados de maneira igual (não importa se o cara é um gênio extremamente produtivo ou um parasita que não produz nada de interessante pra ninguém), vai sempre interpretar suas análises históricas e formular suas teorias com base em sua ideologia e na lógica marxista, que pressupõe que não é possível se estabelecer uma lógica universal, apenas lógicas individuais para cada classe. Já um libertário irá sempre basear suas análises e teorias a partir da premissa de que é impossível haver prosperidade e desenvolvimento sem a justa desigualdade que há no mundo, onde quem consegue agradar a mais pessoas com o fruto de seu trabalho enriquece, e quem não consegue fica sempre pobre (ou aprende alguma coisa que agrade a alguém o bastante pra pagá-lo pra fazer isso).

3 - Quem governa pode até conhecer as conseqüências econômicas de seus atos, no entanto, como sua estadia no poder é volátil e efêmera, ele sempre irá privilegiar o desejo imediato do povo a essas conseqüências. (Um adendo: isso significa que um futuro mais próspero vai sempre ser desprezado em prol de um presente ligeiramente menos ruim. A explicação está no texto de Bastiat que eu publiquei) Além disso, como a ciência econômica é uma ciência social (vide 1-2), o próprio conhecimento econômico do governante será limitado pela doutrina econômica que ele conhece, e, acreditem, a predominante é uma merda!

Agora alguma cosia da minha interpretação. Quando falei com o Ivan da contraprodutividade de se estabelecer provas para que alguém pudesse ser eleito, eu tinha tudo isso em mente. Provavelmente só passaria nas provas quem defendesse as doutrinas destrutivas que vêm sendo praticadas há décadas e produzindo efeitos ruins, e, de todo modo mesmo se algum dia for eleito um governante que faça o que for preciso para melhorar a situação do país no longo prazo (vide Fernando Henrique), o cara fica queimado por MUITO tempo, e dificilmente o partido dele será eleito novamente.
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Mensagem por HardDisk Qua Jun 27, 2012 7:27 am

Eu tou com a impressão de que eu já sabia disso tudo. Razz


3 - Quem governa pode até conhecer as conseqüências econômicas de seus atos, no entanto, como sua estadia no poder é volátil e efêmera, ele sempre irá privilegiar o desejo imediato do povo a essas conseqüências. (Um adendo: isso significa que um futuro mais próspero vai sempre ser desprezado em prol de um presente ligeiramente menos ruim. A explicação está no texto de Bastiat que eu publiquei) Além disso, como a ciência econômica é uma ciência social (vide 1-2), o próprio conhecimento econômico do governante será limitado pela doutrina econômica que ele conhece, e, acreditem, a predominante é uma merda!

Não é o caso de, invés ser uma merda, ser a "menos pior", assim como é a democracia moderna, em relação a modos de governo?


Agora alguma cosia da minha interpretação. Quando falei com o Ivan da contraprodutividade de se estabelecer provas para que alguém pudesse ser eleito, eu tinha tudo isso em mente. Provavelmente só passaria nas provas quem defendesse as doutrinas destrutivas que vêm sendo praticadas há décadas e produzindo efeitos ruins, e, de todo modo mesmo se algum dia for eleito um governante que faça o que for preciso para melhorar a situação do país no longo prazo (vide Fernando Henrique), o cara fica queimado por MUITO tempo, e dificilmente o partido dele será eleito novamente.

Não digo que passaria na prova quem defendesse as "doutrinas destrutivas", mas só quem respondesse algo alinhado com o credo do partido, independente dos resultados dessas doutrinas.


Não sei se eu posso contribuir muito com essas discussões de economia, pois eu nem consigo entender ainda dinheiro como dívida, mas, estando numa incubadora de negócios da prefeitura de São José dos Campos (como único funcionário de uma das empresas Razz), eu sinto na pele como o pensamento de curto prazo enforca esse país. Por exemplo, muitas vezes eu ouço que a Vale recebe milhões do governo (via FAPESP, FINEP ou etc.) e, nos seis meses que eu estou aqui, não sei de nenhuma empresa que conseguiu qualquer tipo de apoio. Pode tar indo pra fora do tópico, mas [retórica]eu te pergunto, uma Vale precisa de dinheiro público, mais do que empresas incubadas?[/retórica]
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Mensagem por Kusanagi Qua Jun 27, 2012 11:48 am

HardDisk escreveu:Eu tou com a impressão de que eu já sabia disso tudo. Razz

É porque quem não estuda economia, observa a realidade, e quem estuda, ao invés de fazer isso, fica lendo teóricos e divagando sobre a genialidade de suas filosofias, porque elas são muito bonitas na teoria, tão bonitas que escondem dezenas de despenhadeiros lógicos.

HardDisk escreveu:Não é o caso de, invés ser uma merda, ser a "menos pior", assim como é a democracia moderna, em relação a modos de governo?

Não é o caso. Atualmente eu diria que há 4 escolas maiores de economia: A monetarista (escola de Chicago), a keynesiana (de John Maynard Keynes), a neoclássica e a austríaca. As duas primeiras são as predominantes, e uma flerta com a outra. A doutrina predominante (monetarista) é uma merda porque se baseia na matemática pra explicar a economia (ignorando os fatos que o Mises falou nesse texto) e flerta com a ideologia da segunda (explico melhor depois). Os problemas dessa metodologia são:

1 - Seres humanos são seres complexos, e a interação entre eles é ainda mais complexa. Envolve milhares de variáveis, algumas das quais não são mensuráveis e sequer são quantizáveis (por exemplo, o humor da pessoa, a preferência estética, etc.), mas todas elas influenciam o comportamento econômico. A interação entre todas essas variáveis gera um emaranhado ainda mais complexo e difícil de se entender e explicar. Pensa na meteorologia, que não consegue fazer previsões precisas do tempo porque não consegue medir o estado das variáveis meteorológicas em número suficiente, nem possui poder computacional suficiente pra processá-las com a precisão desejável. Ainda assim, na meteorologia, você sabe que as variáveis obedecem às leis da física, já as leis que regem o comportamento humano são totalmente desconhecidas!

2 - Ao estabelecer variáveis numéricas, você ganha e transmite a sensação de que conhece de fato o que explica os acontecimentos, quando isso não é verdade. O que é uma percepção subjetiva de um momento histórico, ganha a máscara de verdade. Especialmente nas poucas vezes que acerta. Qual seria o problema disso? Que isso leva a crer que soluções erradas em uma dada situação seriam erradas sempre. A mesma coisa pras certas. Assim, ela leva à repetição indefinida de erros por não analisar a complexidade da conjuntura econômica.

HardDisk escreveu:Não digo que passaria na prova quem defendesse as "doutrinas destrutivas", mas só quem respondesse algo alinhado com o credo do partido, independente dos resultados dessas doutrinas.

Dá na mesma, especialmente em se tratando de Brasil! Hehehe...

HardDisk escreveu:Não sei se eu posso contribuir muito com essas discussões de economia, pois eu nem consigo entender ainda dinheiro como dívida, mas, estando numa incubadora de negócios da prefeitura de São José dos Campos (como único funcionário de uma das empresas Razz), eu sinto na pele como o pensamento de curto prazo enforca esse país. Por exemplo, muitas vezes eu ouço que a Vale recebe milhões do governo (via FAPESP, FINEP ou etc.) e, nos seis meses que eu estou aqui, não sei de nenhuma empresa que conseguiu qualquer tipo de apoio. Pode tar indo pra fora do tópico, mas [retórica]eu te pergunto, uma Vale precisa de dinheiro público, mais do que empresas incubadas?[/retórica]

Eu concordo plenamente contigo. Leia este artigo: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1343
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Mensagem por Kusanagi Qua Jul 04, 2012 11:13 am

Ao invés de eu explicar a diferença das posições das escolas econômicas, o Mises tá preparando um artigo com 17 questões, 10 já respondidas. Vou postar aqui, e edito quando saírem as outras 7.

1) Qual é a importância econômica da propriedade privada?

Resposta marxista: A propriedade está no centro das mais severas desigualdades e opressões da civilização moderna. Somente por meio da regulamentação, da transferência de renda, da redistribuição de riqueza e da propriedade comunal pode uma sociedade alcançar a igualdade, a justiça e a dignidade humana para todos.

Resposta keynesiana: A propriedade é um componente importante do nosso sistema social, mas não faz sentido dizer que há um "direito" de propriedade. A propriedade deve estar sempre sujeita a regulamentações e até mesmo a sofrer modificações em nome do bem comum. O estado deve intervir para impedir abusos de poder econômico, mesmo que isso reduza as tradicionais regalias dos proprietários.

Resposta de Chicago: A propriedade é de importância central para a prosperidade e para o crescimento econômico. Consequentemente, é de suma importância que o estado — ou, mais abstratamente, a lei — mantenha e, sempre que necessário, modifique todo o conjunto de direitos de propriedade a fim de melhor alocar os custos de transação e, com isso, promover o máximo de crescimento e eficiência econômica. A propriedade não é algo que surge naturalmente; ela é o produto final do sistema legal.

Resposta austríaca: A propriedade é uma relação que surge naturalmente entre seres humanas e coisas materiais. A propriedade e os direitos do proprietário sobre sua propriedade tornam possível o cálculo econômico, permitem uma mais ampla e mais produtiva divisão do trabalho e, consequentemente, níveis crescentes de prosperidade. Com efeito, a civilização em si é inconcebível sem propriedade privada. Qualquer transgressão à propriedade resulta em perda de liberdade e de prosperidade.

2) O que é o dinheiro e como ele surge?

Resposta marxista: O dinheiro é um veículo para a exploração do proletariado. O dinheiro distorce o valor real das coisas. O dinheiro não é nem necessário nem desejável. Ele é apenas um produto artificial arbitrário da história. O progresso social levará a mudanças sociais revolucionárias, dentre as quais a eliminação do dinheiro. Isto irá acabar com a exploração e resultará em uma sociedade que tenha por objetivo a satisfação das necessidades reais, e não os lucros financeiros privados.

Resposta keynesiana: O dinheiro é uma criatura do estado. Instituições monetárias sadias requerem planejamento e um banco central. Bancos centrais também podem estabilizar mercados. Bancos centrais podem neutralizar as flutuações cíclicas que ocorrem no setor privado expandindo mais aceleradamente a oferta monetária durante recessões e reduzindo esta expansão durante os períodos de crescimento econômico. O controle estatal do dinheiro é o segredo para se bem gerenciar a economia.

Resposta de Chicago: O dinheiro pode se originar do escambo, mas interesses privados provavelmente não irão aperfeiçoá-lo de modo a satisfazer as necessidades de uma economia moderna. Uma economia tem de ter um banco central para sustentar o setor financeiro. Esforços para se manipular a economia por meio de constantes alterações na oferta monetária irão, na melhor das hipóteses, fracassar; na pior, gerarão severos problemas. As autoridades monetárias não devem aumentar a oferta monetária arbitrariamente. Elas devem aumentá-la a uma taxa constante, e que seja correspondente à taxa de crescimento de longo prazo da economia.

Resposta austríaca: O dinheiro sempre surge do escambo. Em uma economia de escambo, é extremamente raro um indivíduo conseguir encontrar uma pessoa que tenha o desejo de trocar seus bens pela exata quantidade de bens que este indivíduo esteja portando. Esta dificuldade de comércio resulta no surgimento de moedas-commodities. Commodities duráveis, facilmente reconhecíveis, portáveis e divisíveis, como o ouro e a prata, tipicamente assumem as qualificações de ser o melhor e mais confiável tipo de dinheiro disponível. O dinheiro e as instituições relacionadas a ele surgem como uma consequência não-premeditada do comércio e do interesse próprio. A evolução do dinheiro e destas instituições ocorrerá mais harmoniosamente caso seja deixada a cargo das forças concorrenciais de mercado que os criaram. Intervenções estatais irão resultar em inflação e produzir várias outras distorções.

3) Qual é a origem do valor econômico de um bem?

Resposta marxista: O valor de uma mercadoria é igual à quantidade total de trabalho utilizada em sua produção. Se uma bicicleta possui o mesmo valor de mercado de, digamos, 500 ovos, então podemos dizer que 1 bicicleta = 500 ovos. Em que consiste esta igualdade? Obviamente, não estamos dizendo que a bicicleta é "igual" aos ovos; não estamos dizendo que ambos possuem propriedades físicas semelhantes. Se examinarmos a questão cuidadosamente, concluiremos que aquilo que ambos têm em comum é a quantidade de trabalho utilizada em sua produção.

Resposta Historicista (não existe uma resposta propriamente keynesiana para esta pergunta): O valor econômico é uma questão complexa que não pode ser explicada por meio de fórmulas simples. Para entender por que as pessoas de uma determinada sociedade valoram algumas coisas mais favoravelmente do que outras, temos de estudar sua cultura e sua história. Por exemplo, uma tribo indígena pode ter estimado um determinado animal como sendo sagrado. Já os europeus brancos, obviamente, não compartilhavam deste sistema de valores e, por isso, chacinavam os animais. O mesmo é válido para um bem ou serviço no mercado.

Resposta de Chicago: O valor de um bem é determinado pela interdependência entre oferta e demanda, ou por aquilo que pode ser chamado de interação do custo e da utilidade. Contrariamente a algumas escolas de pensamento econômico que tentam explicar o valor com base apenas na utilidade, a abordagem correta é aquela de Alfred Marshall, que percebeu que o valor econômico se deve tanto às preferências subjetivas quanto às condições tecnológicas objetivas. Para ver isso mais claramente, considere que, se os custos de produção de um determinado bem subirem, seu preço final neste novo equilíbrio terá de ser maior na mesma proporção.

Resposta austríaca: objetos físicos como uma banana ou um automóvel não possuem um valor econômico intrínseco. Ao contrário: somente uma mente humana pode atribuir valor a estes itens; e somente então podem os economistas classificar estes itens como sendo bens. Um objeto só é valioso se houver ao menos um ser humano que acredite que este objeto poderá ajudar a satisfazer seus desejos subjetivos. Por exemplo, uma determinada raiz que cure o câncer. Se ninguém souber deste fato, esta raiz não terá nenhum valor econômico, e as pessoas não trocarão dinheiro por ela. Consequentemente, o valor é gerado pelos desejos subjetivos de um indivíduo e por suas crenças quanto às propriedades causativas de um determinado item.

4) Qual é o método correto de se conduzir pesquisas na ciência econômica?

Resposta marxista: Para ser científico, temos de modificar esta tradicional abordagem economicista de ver a sociedade como sendo nada mais do que uma coleção atomística de indivíduos egoístas. Na realidade, os seres humanos se consideram parte de um todo social mais amplo. Uma maneira mais proveitosa de se fazer pesquisas seria estudar os grupos complexos com os quais as pessoas se identificam, sejam eles divididos por classe, raça ou sexo. Tal análise iria revelar o inegável poder dos relacionamentos na sociedade, e forneceria uma compreensão muito melhor dos eventos econômicos do que os típicos e simplistas modelos econômicos atuais.

Resposta keynesiana: A pergunta é enganosa. A economia não pode realmente ser científica no sentido convencional do termo. Na física, temos "leis" fixas que são as mesmas para todas as sociedades e para todos os períodos de tempo. Em contraste, não existem leis fixas na economia. O economista pode estudar um determinado episódio histórico e concluir que, digamos, o controle dos preços dos alugueis não alcançou seus objetivos quando foi tentado em Manhattan após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, isso não significa que esta política não funcionaria na Paris da atualidade. Tudo vai depender de os governantes tomarem o cuidado de evitar os erros do passado.

Resposta de Chicago: Assim como o físico, o economista (se ele quiser ser científico) deve construir um modelo preciso que forneça previsões quantitativas sobre variáveis econômicas, tais como PIB e desemprego. Ato contínuo, o economista deve testar estas previsões e compará-las aos dados reais coletados pelos pesquisadores estatísticos. A todo e qualquer momento, a melhor "teoria" — ou explicação — para um determinado fenômeno econômico será aquele modelo que fornecer a melhor aproximação entre previsões e dados reais coletados.

Resposta austríaca: O economista não deve imitar o comportamento dos cientistas naturais, pois as ciências sociais envolvem seres humanos. A ação humana é caracterizada pelo comportamento intencional, o qual o envolve o uso racional de meios para se alcançar os fins desejados. Os próprios temas de estudo da ciência econômica — bens de capital, dinheiro, salários etc. — não são definidos por suas propriedades físicas ou químicas, mas sim pelas atitudes subjetivas ou mentais dos indivíduos em relação a estes temas. Consequentemente, o método adequado para um economista conduzir sua pesquisa é começando com axiomas autoevidentes — como o de que indivíduos tentam alcançar a maior satisfação ao menor custo — e deles deduzir conclusões lógicas.

5) Qual é o motivo de existir uma taxa de juros, e deveria ela ser regulada?

Resposta marxista: "Juros" são apenas um eufemismo para lucros; um capitalista aufere juros quando ele gasta com salários e matérias-primas menos do que ele ganha ao vender o produto final. Esta mais-valia é obtida pela exploração dos trabalhadores oprimidos que são contratados pelo capitalista. Sob o sistema capitalista, baseado em salários, os trabalhadores são pagos o mínimo necessário para a sua sobrevivência, não obstante o produto total do seu trabalho exceder substancialmente a compensação que ganham de seus patrões. Sob esse aspecto, o sistema de salários em nada difere da escravidão tradicional, em que o senhor de engenho se apropria do produto gerado pelo trabalho exaustivo de seus escravos, e com este fundo "paga" a eles apenas o suficiente para possibilitar sua simples sobrevivência. Obviamente, juros são um componente selvagem das sociedades capitalistas, e irão desaparecer assim que o sistema de salários for aniquilado.

Resposta keynesiana: Os juros compensam os investidores por sua perda de liquidez. A perda de liquidez ocorre quando eles colocam dinheiro em um empreendimento ou o emprestam por um determinado período de tempo. A taxa de juros é o preço da liquidez. Os juros são um fenômeno monetário, e não um fenômeno "real" (como pensavam os economistas clássicos). A economia moderna reconhece o papel das expectativas ou daquilo que pode ser genericamente chamado de "confiança no futuro". Por exemplo, se a taxa de juros salta de 5% para 10%, isso não significa que as pessoas se tornaram mais imediatistas e mais orientadas para o consumo presente; isso pode simplesmente ser um reflexo da uma maior ansiedade a respeito da economia. A manipulação governamental da taxa de juros é certamente uma das várias ferramentas necessárias para suavizar as flutuações econômicas, mas, por si só, esta medida é relativamente impotente. Se todos estão temendo uma piora da recessão, empregadores não irão contratar mais trabalhadores ou construir mais fábricas, não importa o quão baixa esteja a taxa de juros.

Resposta de Chicago: Juros são um retorno sobre o capital; no equilíbrio, a taxa de juros é igual ao produto marginal do capital. A situação é perfeitamente análoga ao mercado de trabalho, no qual os salários são iguais ao produto marginal do trabalho. Há vários arranjos tecnológicos que irão gerar produtos em diferentes datas futuras, e os consumidores têm preferências por consumir em diferentes datas futuras. Na margem, o consumo presente será preferível ao consumo futuro, mas uma unidade extra de capital investido irá gerar um incremento na produção (disponível no futuro) de modo a fazer com que o consumidor seja indiferente entre consumir agora ou esperar uma unidade adicional de tempo para consumir a oferta futura maior possibilitada pela produtividade do capital. O governo não deve interferir nas taxas de juros pelas mesmas razões pelas quais ele não deve interferir nos salários.

Resposta austríaca: Juros são uma consequência de um fato apriorístico: tudo o mais constante, o indivíduo prefere usufruir um bem no presente a usufruir este mesmo bem no futuro. Um bem presente possui um valor maior do que este mesmo bem no futuro. Ceteris paribus, o indivíduo prefere consumir hoje a deixar para depois. O preço atual de um computador pode ser $1.000, mas o preço de uma ordem de entrega deste mesmo computador para daqui a um ano seria menor do que $1.000 — seria, por exemplo, $900. Um empreendedor pode investir $900 em mão-de-obra e materiais com o objetivo de vender um produto ano que vem por $1.000; este juro implícito de $100 que ele irá auferir se deve ao fato de que os fatores de produção "representam" hoje os bens que serão produzidos no futuro e por isso o preço atual destes fatores (os $900) é menor do que o preço final dos bens produzidos no futuro ($1.000). Para abrir mão de $900 agora, é natural que o empreendedor espere receber uma soma maior do que $900 no futuro. Obviamente, o governo não tem de interferir na taxa de juros de mercado, uma vez que ela meramente reflete o bônus subjetivo que os indivíduos atribuem a um bem presente em relação a um bem futuro.

6) Qual é o impacto econômico da poupança?

Resposta marxista: A vasta acumulação de riqueza por determinadas classes e famílias cria uma oligarquia econômica que exclui aqueles que não conseguem uma posição dentro do sistema econômico. Impostos sobre herança, impostos sobre a renda, impostos sobre o lucro e impostos sobre dividendos são essenciais para uma sociedade que preze a igualdade. Afinal, rendimentos sobre volumosas contas bancárias nada mais são do que renda imerecida, renda não oriunda do trabalho. Nenhuma sociedade pode tolerar que algumas pessoas vivam com renda de juros ao passo que todas as outras vivam em total dificuldade, de contracheque em contracheque, penando para sobreviver apenas com seus magros salários mínimos.

Resposta keynesiana: Em tempos normais, poupar não é algo economicamente nocivo; mas em um cenário de recessão, poupar pode fazer com que a economia entre em uma espiral descendente. Poupar significa reduzir os gastos em consumo, mas esta poupança pode não se traduzir em gastos em investimentos por causa do pessimismo dos investidores. Isto irá reduzir a demanda total da economia e levar ao desemprego. Uma maneira de corrigir isto é expandindo a oferta monetária para manter as taxas de juros baixas. Tal medida irá sustentar o investimento privado e estimular o gasto total na economia. As autoridades fiscais e monetárias têm de implementar políticas que desestimulem o entesouramento de dinheiro e estimulem os gastos correntes. Quanto à poupança para o ciclo da vida dos indivíduos, é necessário ter uma rede de seguridade social que irá bancar as pessoas quando elas estiverem mais velhas.

Resposta de Chicago: Não há investimentos — e, consequentemente, crescimento econômico — sem poupança. Por esta razão, o estímulo à poupança tem de ser uma prioridade econômica. A inflação desestimula a poupança, e é por isso que uma política monetária que garanta preços estáveis tem de ser a prioridade de um banco central. Estudos empíricos mostram que a poupança ocorre ao longo do ciclo da vida dos indivíduos. Erros de cálculo podem ocorrer, e é por isso que o governo deve incentivar a previdência privada, um sistema que é mais eficiente do que a Previdência pública porque gera maiores retornos.

Resposta austríaca: Poupar (que significa se abster do consumo presente) é essencial para a formação de capital, mas não há uma proporção socialmente ótima entre consumo e poupança que deveria predominar em uma sociedade. Tudo vai depender da preferência temporal dos indivíduos, isto é, da proporção em que as pessoas preferem bens presentes a bens futuros. Indivíduos podem optar por consumir em vez de investir ou vice-versa. A intervenção estatal tem o poder de distorcer estas escolhas, subsidiando ou tributando a poupança ou o consumo ou ambos. Para que prevaleça a combinação que melhor reflita as genuínas preferências dos indivíduos, o governo não pode adotar nenhuma política com relação à poupança, mesmo para o caso de se poupar para a velhice.

7) Qual deve ser a função e o tamanho adequado do governo?

Resposta marxista: O mercado é uma arena em que os poderosos interesses corporativos exploram livremente os trabalhadores e os consumidores. O capitalismo empobrece e aliena as massas ao mesmo tempo em que enriquece algumas poucas elites. Ele também devasta o ambiente e estimula a violência. Uma sociedade genuinamente humana aboliria a propriedade privada, exceto para bens pessoais (por exemplo, roupas e sapatos). Arranjos comunais na produção e na distribuição de bens gerariam uma sociedade mais justa, mais feliz e mais realizada para todos.

Resposta keynesiana: Os mercados, além de serem incapazes de propiciar instituições fundamentais, sofrem de graves e substanciais imperfeições no que diz respeito à produção de bens e serviços. Por exemplo, a instabilidade nos mercados gera crises recorrentes e leva a uma crescente desigualdade. Devemos sim deixar para o mercado a tarefa de produzir a maior parte dos bens e serviços, mas o governo tem de ter a autoridade arbitrária para intervir em todos os mercados e corrigir suas falhas perceptíveis. Desta forma, o estado e o mercado podem trabalhar em conjunto, seguindo um modelo de parceria público-privada.

Resposta de Chicago: Os mercados fornecem todos os bens de capital e de consumo de maneira relativamente eficiente. No entanto, por várias razões econômicas e políticas, as transações privadas para serviços e instituições fundamentais, como justiça, dinheiro e defesa, não podem ser feitas pelo mercado, que fracassaria fragorosamente nestas tarefas. Não faz nenhum sentido discutir mercados sem antes conceder a necessidade da existência do estado. O governo tem de existir para fiscalizar e impingir as "regras do jogo". Sem isso, a sociedade desanda para o caos. O governo tem de estabelecer e impor regras básicas para a sociedade, mas sempre evitando intervenções arbitrárias ou desestabilizadoras nos mercados.

Resposta austríaca: A ordem em uma sociedade pode emergir das transações voluntárias entre os indivíduos. As pessoas podem voluntariamente incorrer em transações privadas para obter qualquer coisa que valorizem, inclusive justiça e segurança. Dado que todas as escolhas voluntárias envolvem o julgamento subjetivo de situações futuras, cada indivíduo tem a capacidade de saber quais bens e serviços são os mais adequados para ele, inclusive serviços como proteção e resolução de disputas. Idealmente, o governo estaria limitado apenas à proteção dos direitos básicos de cada cidadão; mas o governo, como o conhecemos, protege apenas seus favoritos e viola os mais básicos direitos de propriedade do cidadão comum. Todos os esforços para se limitar os poderes do estado tendem a fracassar. Instituições privadas de segurança e arbitramento são mais eficientes e morais do que suas congêneres estatais.

Cool O que gera crescimento econômico?

Resposta marxista: O processo capitalista gera crescimento econômico, mas isso é uma falácia lógica. Embora o capitalismo seja o sistema mais produtivo, a distribuição de riqueza sob o capitalismo é completamente errada e injusta. Classes inteiras de cidadãos são deixadas à margem do sistema. Os capitalistas se aproveitam dos trabalhadores pagando-lhes os salários mais baixos possíveis em vez de o real valor de sua mão-de-obra. Portanto, o capitalismo produz os bens e os entrega, mas para as pessoas erradas. É urgente construirmos uma democracia dos trabalhadores, em que a produtividade ande de mãos dadas a uma distribuição de renda mais justa.

Resposta keynesiana: A demanda gerada pelo consumo privado não é o suficiente para gerar crescimento econômico. O gasto privado geral é frequentemente muito baixo, muito manipulado pelas grandes empresas, e repleto de escolhas que ignoram as prioridades sociais. Os consumidores podem estar poupando pouco ou em excesso. Isto faz com que, muitas vezes, déficits orçamentários do governo sejam necessários para estimular a economia. Da mesma maneira, o gasto privado é incapaz de ofertar bens públicos. O gasto estatal nestas áreas é necessário para o crescimento econômico — particularmente na educação, na infraestrutura e na pesquisa científica.

Resposta de Chicago: Uma relação equilibrada entre demanda agregada e oferta agregada é a principal determinante do crescimento econômico. Dado que os mercados privados nem sempre podem fornecer tal cenário, ambientes institucionais estáveis são necessários. O setor público possui um papel vital em assegurar o crescimento econômico fornecendo um arcabouço de instituições financeiras e jurídicas. Uma variedade de esforços do setor público, como baixas taxas de juros e subsídios, podem também ter um papel positivo. Uma quantidade muito limitada de regulamentações também se faz necessária, mas isso não é necessariamente verdade em todos os casos.

Resposta austríaca: A fonte do crescimento econômico são as trocas voluntárias e mutuamente benéficas entre os indivíduos. Dentro de uma economia baseada em transações voluntárias, os consumidores gastam uma parte da sua renda em bens e serviços com o intuito de satisfazer seus desejos mais imediatos. Isto estimula a produção corrente. Simultaneamente, os consumidores poupam uma parte de sua renda visando a satisfazer, no futuro, seus desejos que hoje são menos imediatos. Isto sinaliza para os empreendedores como deve ser estrutura produtiva voltada para o longo prazo. Esta proporção entre consumo e poupança determina a estrutura de produção da economia, mostrando quais bens são mais demandados no presente e quais bens devem ser produzidos para o longo prazo. Este arranjo leva ao desenvolvimento de mercados de capitais mais sofisticados. Contratos privados, concorrência nos mercados e instituições privadas que possibilitam investimentos e acumulação de capital são todo o necessário para se obter um crescimento econômico ótimo.

9) O que gera os ciclos econômicos?

Resposta marxista: A concorrência acirrada em virtude de lucros declinantes e de uma crescente monopolização gera crises cada vez maiores sob o capitalismo. Os capitalistas investem em máquinas que diminuem a necessidade de mão-de-obra com o intuito de manter o desemprego alto e os salários baixos. A concorrência leva a taxas de lucro declinantes e a recessões. Neste cenário, alguns capitalistas se darão bem, aumentando sua riqueza em virtude da aquisição barata do capital de outros capitalistas falidos, o que elevará sua lucratividade no momento. No entanto, a tendência inerente ao capitalismo de sempre reduzir as taxas de lucro levará a mais desemprego e a uma outra depressão.

Resposta keynesiana: As expansões econômicas começam em um cenário de otimismo excessivo, frequentemente estimulado por mudanças tecnológicas, o que resulta em um frenesi especulativo. Em seguida, uma deficiência no gasto total gera as recessões/depressões. Quanto a poupança total excede o investimento total, o gasto total com bens sofre uma queda. Isto reduz a demanda pela mão-de-obra necessária para se produzir estes bens. Consequentemente, o pessimismo entre os investidores e empresários leva a uma demanda agregada insuficiente e a tempos econômicos difíceis.

Resposta de Chicago: Variações na oferta monetária fazem com que o crescimento do PIB se desvie de sua tendência geral de longo prazo. Sem estas variações, a economia se mantém relativamente estável. Variações na oferta monetária geram expansões econômicas inflacionárias e recessões. Defasagens no ajuste do nível dos salários dentro destes ciclos fazem com que estas flutuações econômicas gerem mudanças significativas nas taxas de desemprego.

Resposta austríaca: A expansão da oferta monetária reduz artificialmente as taxas de juros. Isto provoca uma acentuada elevação nos investimentos e nos gastos em consumo. A redução artificial dos juros faz com que os empreendedores incorram em investimentos de longo prazo, pois estes agora se tornaram mais lucrativos, ao mesmo tempo em que estimula os consumidores a se endividarem mais e a se tornarem mais imediatistas, mais voltados para o consumo imediato. Disso surge uma descoordenação na economia. A relação temporal entre poupança e investimento, produção e consumo, torna-se desarranjada e descompassada. Os preços sobem. A receita futura esperada pelos investidores não se concretiza, pois nunca houve um aumento na poupança que possibilitasse uma maior renda futura dos consumidores. Os processos de mercado revelam que vários investimentos não apenas não são lucrativos, como na realidade representam capital investido de maneira errônea e insustentável. Recursos escassos foram desperdiçados em projetos cujos retornos foram sobrestimados. Estes investimentos são então liquidados, o que dá início à recessão.

10) Qual é a política correta para se combater recessões?

Resposta marxista: As recessões servem como um lembrete à sociedade de que o laissez-faire é uma política fracassada. Com todas as recessões, as autoridades políticas já deveriam ter aprendido que já passou da hora de o governo domar os especuladores e regular mais severamente as corporações. Mais setores da economia têm de ficar sob controle público, mesmo que isto signifique a estatização de todo o setor industrial. Devemos isso às verdadeiras vítimas dos ciclos econômicos: o proletariado.

Resposta keynesiana: Além das tradicionais medidas de expansão fiscal e monetária, é essencial que o governo proteja as indústrias que foram mais duramente atingidas pela recessão. O governo também deveria proteger os trabalhadores, impedindo que eles sejam demitidos, além de fornecer benefícios aos desempregados. Os consumidores não devem poupar, mas sim gastar ainda mais. Simultaneamente, as empresas deveriam pegar dinheiro emprestado a juros zero tanto dos bancos quanto do próprio governo. Apenas com estas medidas o equilíbrio produtivo pode ser restaurado.

Resposta de Chicago: O Banco Central pode estimular a economia reduzindo as taxas de juros e o governo pode aumentar a demanda agregada por meio de um aumento temporário dos gastos, mesmo que para isso tenha de incorrer em déficits orçamentários. Assim que a economia voltar ao normal, o Banco Central pode permitir que os juros subam e o governo pode restringir seus gastos.

Resposta austríaca: A recessão é apenas a revelação de que havia um conjunto de descoordenações e investimentos errôneos e insustentáveis em toda a economia em decorrência de uma política monetária expansionista. Trata-se de uma etapa essencial do ciclo econômico, que irá liquidar os investimentos ruins e liberar recursos até então imobilizados nestes investimentos, permitindo que eles agora possam ser utilizados por outros setores da economia. Não apenas o governo não deve combater a recessão, como deve permitir que ela siga seu curso até o fim, limpando os investimentos ruins de toda a economia. Políticas contracíclicas são contraproducentes e logram apenas prolongar a recessão. Recessões futuras podem ser impedidas por meio de uma reforma do sistema monetário, que é a real causa dos ciclos econômicos.

11) Quão viável é o socialismo?

Resposta marxista: O socialismo não apenas é uma opção eminentemente viável, como é para ele que a história está inexoravelmente nos levando. Porém, o socialismo ainda enfrenta resistências por causa da influência que o grande capital exerce sobre os atuais sistemas políticos. Como é possível o socialismo funcionar? Assim como o planejamento em períodos de guerra, os planejadores socialistas podem monitorar os estoques de bens e aumentar (diminuir) os preços quando os estoques diminuírem (aumentarem), desta forma ajustando os preços de modo a sempre deixá-los compatíveis com a demanda dos consumidores. Os planejadores também podem ordenar que os administradores das sucursais locais desempenhem de maneira eficiente suas tarefas, o que fará com que a produção e a inovação fluam continuamente. Este tipo de processo de tentativa e erro conduzido por pessoas de boa vontade pode funcionar pelo menos tão bem quanto o mercado, com a vantagem de não ter o custo social deste. O socialismo não é nenhuma ciência astronáutica; ele é totalmente viável e pode funcionar melhor do que o capitalismo.

Resposta keynesiana: O capitalismo é produtivo, mas os capitalistas, quando deixados livres, colocam os lucros acima das pessoas, e egoisticamente descontam os interesses dos trabalhadores e dos consumidores. Em uma sociedade, instituições como sindicatos, salários mínimos, leis antitruste, leis contra o trabalho infantil, leis trabalhistas e outras estruturas legais são essenciais para se solucionar os conflitos entre capitalistas e trabalhadores/consumidores. É essencial que o governo administre alguns setores, como os de utilidades públicas e a educação, ao passo que empresas privadas podem cuidar da produção de bens e serviços, desde que sob forte regulamentação do estado. O fato de havermos criado estas instituições mostra que aprendemos coisas boas com os socialistas. Temos de parar de tratar o socialismo como se fosse algum tipo de bicho-papão.

Resposta de Chicago: A experiência nos mostra até o momento que o sistema de livre iniciativa tem sido mais produtivo do que a maioria dos experimentos socialistas já implantados. Isto pode ser por causa da falta de incentivos para se produzir no socialismo ou por causa da baixa qualidade do planejamento utilizado. Um mercado completamente desregulamentado, no entanto, também possui suas deficiências, e é por isso que ele tem de sofrer interferências em algumas áreas. De qualquer maneira, é fútil tentar recorrer a alguma teoria geral que nos permita dizer, aprioristicamente, que todos os planejamentos socialistas fracassarão. A história nos mostra que algumas formas de planejamento central funcionam muito bem. Bancos centrais, por exemplo. Um Banco Central incorre em um tipo de planejamento central, assim como o fazem também os juízes e os reguladores, e de maneira muito bem sucedida — desde que pessoas competentes estejam no comando, é claro. A desejabilidade de uma intervenção estatal para além das funções clássicas do governo — criar e impor regras — irá depender de quão severas são as imperfeições do mercado em relação às imperfeições governamentais.

Resposta austríaca: A propriedade comunal dos meios de produção (por exemplo, das fábricas) impede a existência de mercados para bens de capital (por exemplo, máquinas). Se não há propriedade privada sobre os meios de produção, não há um genuíno mercado entre eles. Se não há um mercado entre eles, é impossível haver a formação de preços legítimos. Se não há preços, é impossível fazer qualquer cálculo de preços. E sem esse cálculo de preços, é impossível haver qualquer racionalidade econômica — o que significa que uma economia planejada é, paradoxalmente, impossível de ser planejada. Sem preços, não há cálculo de lucros e prejuízos, e consequentemente não há como direcionar o uso de bens da capital para atender às mais urgentes demandas dos consumidores da maneira menos dispendiosa possível. Em contraste, a propriedade privada sobre o capital e a liberdade de trocas resultam na formação de preços (bem como salários e juros), os quais refletem as preferências dos consumidores e permitem que o capital seja direcionado para as aplicações mais urgentes, ao mesmo tempo em que o julgamento empreendedorial tem de lidar constantemente com as contínuas mudanças nos desejos dos consumidores. O socialismo, um sistema que na prática requer um estado totalitário, não é uma opção viável ao capitalismo. Qualquer passo rumo ao socialismo é um passo rumo à irracionalidade econômica.

12) Qual a relação entre economia e ambiente?

Resposta marxista: A única solução definitiva para o problema da poluição e da degradação ambiental é a imposição de um severo limite sobre o desenvolvimento econômico. Somente assim a qualidade de vida pode ser preservada. É preciso deixar bem claro aos capitalistas que damos mais valor à qualidade de vida do que à produção e aos ganhos materiais. E nem se trata de uma questão exclusivamente de lucros e pessoas. O delicado ecossistema tem de ser protegido sob todos os aspectos, desde a mais ínfima forma de vida até o mais volumoso corpo de água — sem descuidar, é claro, da atmosfera, que não pode receber gás carbônico. Tudo isso implica a urgente necessidade de se controlar rigidamente o crescimento populacional.

Resposta keynesiana: A poluição é um claro exemplo de falha de mercado. Enquanto as grandes empresas estiverem lucrando, elas tenderão a utilizar os recursos de maneira excessiva, impondo pesados custos ambientais sobre todos nós. Quanto aos terrenos mais valiosos, às florestas antigas e às espécies em risco de extinção, a tendência é de caça e exploração predatórias, com os capitalistas se aproveitando do que é valioso e sempre desconsiderando o interesse social da preservação. É por isso que severas regulamentações ambientais têm de desempenhar um papel proeminente na proteção de terras, na preservação de espécies, no controle da poluição, na limpeza do ar e da água e, principalmente, em policiar e punir as empresas infratoras, deixando claro que os lucros não podem vir à custa da natureza.

Resposta de Chicago: A maioria das questões que envolvem o ambiente pode ser resolvida por meio de incentivos de mercado. Mas os tribunais têm de ser transparentes ao definirem as fronteiras de cada propriedade para quando os conflitos surgirem. Questões envolvendo externalidades podem ser resolvidas por meio de compensações entre os proprietários envolvidos na disputa, com o veredito sendo imposto por arbitragem estatal. Quanto à poluição, ela pode ser minimizada por meio de um mercado para direitos de poluição, e estes direitos podem ser comercializados de modo que os custos da poluição recaiam sobre os poluidores. Taxas para o uso de terras públicas são normalmente estipuladas em níveis muito baixos, o que acaba estimulando o uso excessivo. Preços mais altos são o segredo para a conservação.

Resposta austríaca: Praticamente todas as questões relacionadas ao ambiente envolvem conflitos sobre propriedade. Sempre que houver propriedade privada, os proprietários podem resolver estes conflitos por meio da proibição e da punição aos atos de transgressão. O incentivo para se conservar é uma característica inerente à estrutura de incentivos criada pelo mercado. O mesmo é válido para o incentivo de se preservar todas as coisas de valor. A responsabilidade pelos danos à propriedade alheia tem de ser arcado pelo indivíduo que causou o estrago. Propriedade comunal do ambiente, como existe hoje, não é a solução. Dado que as florestas, por exemplo, não são geridas privadamente, a meta de se conseguir uma administração racional e "verde" sempre será enganosa. Somente quando uma terra tem dono é que este possui vários incentivos para cuidar muito bem dela. Sua preocupação é com a produtividade de longo prazo. Assim, caso ele decida, por exemplo, arrendá-la para uma madeireira, ele vai permitir a derrubada de um número limitado de árvores, pois não apenas terá de replantar todas as que ceifou, como também terá de deixar um número suficiente para a safra do próximo ano.

13) Qual a função dos sindicatos?

Resposta marxista: Os sindicatos, como são formados atualmente, não podem consertar os defeitos do capitalismo. É da própria natureza do capitalismo explorar os trabalhadores. Dado que todo o capital advém do trabalho, os capitalistas têm necessariamente de pagar aos trabalhadores menos do que o real valor de seu trabalho. Caso contrário, os capitalistas deixariam de existir. Os sindicatos não podem mudar isto. A única coisa que pode mudar tudo isto é a abolição do capitalismo e a imposição da propriedade comunal dos meios de produção. Na medida em que os sindicatos representam um movimento de vanguarda com o poder de fazer esta revolução, eles devem ser defendidos e fortalecidos.

Resposta keynesiana: Sindicatos são vitais para uma sociedade livre. Sindicatos funcionam como se fossem um poder compensatório, contrabalançando a influência do grande empresariado. Logo, os sindicatos são necessários para impedir que os trabalhadores sejam explorados pelas grandes corporações. O governo deve apoiar os sindicatos criando leis que asseguram o direito de se organizar e sindicalizar, e normalmente os trabalhadores sempre estão em melhor situação quando há representação sindical.

Resposta de Chicago: Sindicatos são monopolistas, mas podem servir a bons propósitos. Sua função histórica tem sido a de contrabalançar a concentração do poder industrial. Ao mesmo tempo, um domínio sindical excessivo também pode elevar os salários para valores acima do nível de competitividade e, com isso, reduzir o emprego e a produção. Os efeitos dos sindicatos variam de acordo com circunstâncias específicas, de modo que não há base para se formar uma opinião geral quanto aos méritos dos sindicatos. Tudo depende das circunstâncias do tempo e do lugar.

Resposta austríaca: Sindicatos são monopólios trabalhistas porque se beneficiam de privilégios governamentais. Sindicatos têm como objetivo elevar os salários para valores acima dos de livre mercado. Isto reduz as chances de emprego para trabalhadores menos qualificados e de baixa produtividade, reduzindo a produção geral de bens de consumo. Sindicatos grevistas sempre recorrem à coerção — com o apoio do estado — para espoliar a propriedade de seus patrões, impedindo que os meios de produção continuem sendo utilizados por outros trabalhadores "fura-greves". As lideranças sindicais são frequentemente corruptas e se aproveitam enormemente dos próprios trabalhadores sindicalizados, os quais sustentam compulsoriamente seus líderes. Os sindicatos também trabalham para concentrar poder nas mãos de políticos sindicalistas. Esta concentração de poder vai contra os interesses de uma sociedade livre.

14) Os mercados criam e sustentam monopólios? O que fazer quanto a isso?

Resposta marxista: Se há algo que a história do capitalismo nos mostra perfeitamente é que este sistema leva à concentração das empresas. Com cada vez menos empresas ditando os termos, os resultados são preços cada vez maiores e salários cada vez menores. Sindicatos e regulamentações antitruste já apresentaram algumas medidas bem sucedidas para coibir esta concentração, mas nenhuma destas duas instituições foi longe o bastante para reverter a tendência monopolística do mercado. Temos também de questionar a ideia de que a própria concorrência deveria ser um objetivo político. Muito frequentemente, ela é socialmente destrutiva, não passando de um slogan repetido por monopolistas para justificar seu comportamento explorador. Uma sociedade formada pela cooperação entre todos, uma economia genuinamente democrática, deveria realmente ser o ideal.

Resposta keynesiana: O mercado tende a gerar monopólios de vários tipos e tamanhos. O governo não deve permitir que empresas exercitem seu poder de monopólio ditando preços. Um poder monopolista pode ser detectado por várias fórmulas matemáticas que comparam os custos de produção com o preço do produto final, sempre de acordo com um modelo de concorrência perfeita. Monopólios geográficos podem não ser mais tão importantes quanto já foram, e isso se deve aos avanços na tecnologia dos transportes. No entanto, o que estamos enfrentando hoje é uma variedade de monopólios possibilitados e orientados pela tecnologia, como mostra o exemplo da Microsoft e da Apple. Por isso, os reguladores têm de estar constantemente alertas para empresas que tentam utilizar seu poder de mercado, se enriquecendo à custa dos consumidores. A concorrência necessita de uma rigorosa intervenção do estado.

Resposta de Chicago: A regulação dos monopólios gerou mais malefícios do que benefícios, pois sempre acaba protegendo determinados concorrentes e não a concorrência em si. Alguns tipos de regulação contra cartéis se baseiam em modelos falhos, incapazes de entender que algumas empresas ganham fatias de mercado simplesmente porque seus produtos são desejados pelos consumidores. O que cabe aos reguladores fazer? Como disse Adam Smith, eles deveriam impedir a conspiração empresarial, o comportamento ostensivamente predatório de algumas empresas e, de resto, assegurar um equilíbrio que leve à genuína concorrência. Por fim, vale ressaltar que alguns bens são de melhor qualidade quando fornecidos por monopólios, como justiça e defesa.

Resposta austríaca: Economistas da escola clássica estavam corretos ao definirem um monopólio como sendo um privilégio concedido pelo governo. Afinal, adquirir o privilégio legal de ser um produtor defendido pelo estado é a única maneira de se sustentar um monopólio em um mercado com total liberdade de entrada. Quando não há este privilégio, a precificação predatória não é uma prática que possa ser mantida por muito tempo, e nem mesmo sua tentativa deve ser lamentada, dado que se trata de um grande benefício para os consumidores. Comportamentos típicos de cartel sempre se esfacelam, e quando isso não ocorre, eles servem a uma função de mercado. O termo "preços monopolistas" não possui nenhum significado efetivo em um arranjo de mercado, pois o mercado não é uma simples fotografia instantânea, mas sim vários processos contínuos de mudança. Uma economia de mercado não necessita de nenhuma política antitruste; com efeito, o estado é a própria fonte dos monopólios e oligopólios que testemunhamos atualmente, como os setores judiciário e de segurança, além de todo o setor de utilidades públicas.

15) E bens como ruas, estradas e educação?

Resposta marxista: Frequentemente se afirma que a livre iniciativa é a resposta para os nossos problemas econômicos, e que o governo não é capaz de nos ofertar bens e serviços. Mas o exemplo das escolas, das ruas e das estradas é uma ótima contraposição a esta afirmação. As escolas públicas já educaram, com alta qualidade, milhões de pessoas e as ruas e estradas públicas são a chave para fazer com que a sociedade aberta seja acessível para todos. Com efeito, o sucesso destas instituições abre as porta para as enormes possibilidades disponíveis para uma sociedade que tem a coragem de abandonar o laissez-faire e abraçar a genuína oferta social de todas aquelas coisas que estimamos, mas que os interesses corporativos e a mentalidade estreita dos empresários se recusam a tornar acessíveis para todos.

Resposta keynesiana: Há alguns bens que o mercado não pode ofertar de uma maneira que atenda às necessidades sociais. Escolas privadas são ótimas para aqueles que têm dinheiro, mas uma sociedade democrática tem de ofertar educação para todos. O mesmo raciocínio se aplica para as ruas e estradas, que fazem parte da infraestrutura pública de uma sociedade moderna e que, por isso, não deveriam estar sujeitas às astúcias da livre iniciativa. Mas isso não significa que não haja espaço para reformas. As verbas para a educação são insuficientes e os professores são mal remunerados. As ruas e estradas estão sujeitas a um uso excessivo, o que sempre gera congestionamentos. A solução é direcionar generosas verbas para o sistema de transporte público. Medidas como o compartilhamento de automóveis, mesmo que compulsória, devem ser estimuladas.

Resposta de Chicago: Não há por que discutir se bens como ruas, estradas e educação são necessidades essenciais; ainda assim, o mercado não irá fornecê-los em quantidade suficiente. A única questão pendente, portanto, se refere à administração pública. Há maneiras boas e ruins de o governo ofertar estes serviços. A adoção de incentivos de mercado pode aumentar a eficiência da oferta. A construção e a administração podem ser terceirizadas. Problemas de congestionamento podem ser resolvidos por meio de pedágios ou por outras formas de racionamento de uso. As escolas podem se tornar mais competitivas por meio de vouchers e outros sistemas inovadores de licenciamento governamental voltados para suprir necessidades especiais.

Resposta austríaca: Estes são bens como quaisquer outros — eles podem ser supridos pelo mercado e somente pelo mercado. O estado é incapaz de construir e manter instituições educacionais que passem no teste da racionalidade econômica, pois sempre fará isso sem o benefício da resposta econômica dos consumidores usuários de seus serviços. Em vez de depender de mensalidades voluntariamente pagas pelos consumidores — o que atestaria a qualidade dos serviços —, o estado simplesmente coleta impostos e os gasta arbitrariamente. O mesmo é válido para as ruas e estradas: quantas serão construídas, onde e com que qualidade são decisões que, em última instância, serão tomadas de acordo com meras conveniências políticas. Em uma economia de mercado, a qualidade, a quantidade e os tipos de bens e serviços correspondem às necessidades sociais. Estes bens são serviços que são estimados e apreciados pelos consumidores, o que significa que eles serão ofertados caso seja economicamente factível fazer isso em relação a outras prioridades sociais.

16) Qual o papel da igualdade e da desigualdade?

Resposta marxista: A desigualdade é uma característica intrínseca a uma estrutura social cujo preconceito está arraigado na longa e vergonhosa história da maneira como a sociedade ocidental tratou as mulheres e outras minorias. O impulso preconceituoso, enraizado no espírito da subjugação que deu origem ao capitalismo ocidental, é uma forma de violência e, ainda assim, é parte da corrupta infraestrutura da própria economia de mercado. Se os proprietários do capital forem deixados livres, os grupos excluídos permanecerão perpetuamente excluídos; por isso, a sociedade tem de agir para controlar e restringir os capitalistas. A igualdade plena continuará sendo um sonho distante enquanto tivermos uma sociedade que trata as pessoas como bens que podem ser comprados e vendidos, e enquanto continuarmos colocando a propriedade privada de poucos acima do interesse comum de todos.

Resposta keynesiana: A ênfase moderna dada à igualdade foi o grande avanço político do século passado. Não mais o sistema político e econômico exclui a participação das mulheres e das minorias; ao contrário, as inclui como questão de lei. Estes grupos tendem a ser artificialmente subvalorizados pela "mão invisível" do mercado, e é por isso que o governo tem de impor leis antidiscriminação e a favor de cotas. O estado de bem-estar social também beneficiou a sociedade ao garantir que os benefícios gerados pela crescente riqueza fossem redistribuídos por toda a sociedade, de modo a impedir que os ricos se tornem mais ricos à custa dos pobres. Já avançamos bastante, mas ainda há muito mais a ser feito.

Resposta de Chicago: É um grande erro fazer com que a igualdade de resultados seja um objetivo político, pois legislações igualitaristas podem destruir os incentivos para o aprimoramento. Punir os ricos é uma medida autodestrutiva, mesmo para os pobres que estão batalhando para se manter. A igualdade de oportunidades, no entanto, já é diferente. É algo que todos merecem em decorrência de sua própria dignidade como ser humano. Por isso, uma nação deve se esforçar para ter instituições educacionais de qualidade, instituir um limitado imposto sobre heranças e, de resto, auxiliar a todos aqueles que, sem nenhuma culpa própria, não possuem os meios de entrada na divisão do trabalho. Tão logo estas instituições estiverem criadas, iremos descobrir que as forças da concorrência do mercado alcançarão os objetivos igualitários através de meios predominantemente voluntários.

Resposta austríaca: A igualdade é um termo que se relaciona adequadamente à matemática, e não às ciências sociais. Os seres humanos são desiguais em seus dotes, oportunidades, ambições e vontade de conquista. Desigual não significa inferior ou superior; significa apenas diferente. Diferenças são a exata origem da divisão do trabalho e, dentro de um arranjo de mercado, não levam a nenhum conflito, mas sim à cooperação. Embora as diferenças devam ser celebradas, proprietários de estabelecimentos têm todo o direito de tratar as pessoas desigualmente, escolhendo quem irão contratar e quem pode e quem não pode frequentar seu estabelecimento. (Afinal, seria correto obrigar um negro dono de um bar a aceitar a presença de neonazistas em seu estabelecimento?). São os proprietários que devem arcar com as consequências de seus atos. Legisladores não deveriam ter qualquer preocupação em tentar criar nem igualdade de resultados e nem igualdade de oportunidades, seja entre indivíduos ou entre grupos de indivíduos classificados de acordo com qualquer critério. O único lugar em que cabe a igualdade é na aplicação da lei, a qual deveria tratar todos os indivíduos da mesma maneira, sem qualquer consideração com seu gênero, cor, preferência sexual ou classe social.

17) Quem melhor serve à sociedade?

Resposta marxista: O capitalismo serve aos empresários e os empresários servem a si mesmos. O sistema é totalmente baseado na exploração dos consumidores e dos trabalhadores. A única solução para estes problemas é abolir o capitalismo e, com ele, a classe capitalista dos empresários. Uma sociedade genuinamente democrática ou socialista irá acabar com as tendências exploradoras. As pessoas não mais irão almejar o lucro privado porque os lucros privados não mais existirão. As pessoas terão melhores motivações e serão dotados de maior espírito público sob o socialismo. Os líderes da futura sociedade socialista promoverão o bem comum.

Resposta keynesiana: Legisladores e especialistas em políticas públicas, sob a orientação de uma variedade de grupos de aconselhamento, têm o interesse público em mente quando formulam e executam suas políticas. Eles são capazes e têm o desejo de melhorar o bem-estar da sociedade. Empresários buscam o lucro e se importam muito pouco com o bem-estar geral do povo. Eles servem ao interesse público apenas na medida em que obtêm lucros nesse processo. Dados os numerosos e severos defeitos na maneira como os mercados funcionam, líderes públicos bem informados têm de trabalhar para aperfeiçoar o bem-estar público — um projeto viável desde que limitemos a influência dos interesses corporativos sobre a política.

Resposta de Chicago: Políticos buscam seus próprios interesses, mas a competição política e o processo de políticas públicas fazem com que eles de certa forma acabem também servindo ao público. Empreendedores também servem ao público de certa forma, pois é assim que obtêm lucros. A questão sobre se são os líderes cívicos ou os empreendedores quem melhor serve ao público ainda está em aberto. Tudo depende das circunstâncias específicas da época e do local. A sociedade democrática já se mostrou capaz de resolver questões de gestão social ao longo do tempo.

Resposta austríaca: Empreendedores possuem um papel indispensável para uma sociedade. Empreendedores estão sempre alertas para as oportunidades de lucro e estão sempre fazendo julgamentos acerca das demandas futuras. A concorrência em relação a estas oportunidades resulta em um sistema de lucros e prejuízos que gera preços para a mão-de-obra e para o capital. Esta concorrência direciona recursos para a satisfação das mais urgentes necessidades dos consumidores. Políticos bem-sucedidos são aqueles que possuem maior capacidade para conservar e exercer poder político. Estes são tipicamente os elementos mais inescrupulosos da nossa sociedade.
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Mensagem por Kusanagi Seg Jul 30, 2012 12:38 am

Um dos posts mais fodas que já li no Mises. Além de ser pequeno:

O monumental erro em comum entre Marx e Smith - erro que mudou o mundo para sempre

O que esses dois pensadores, tidos como opostos, poderiam ter em comum? Ocorre que Karl Marx herdou de Adam Smith um erro extremamente básico, um erro que possui monumentais consequências e que mudou o mundo para sempre.
Em seu famoso tratado sobre a riqueza das nações, Adam Smith nos diz que, em condições primitivas ou em cidades pequenas, aqueles indivíduos que vão ao mercado para vender seus produtos (sejam eles produtos agrícolas, parte do seu rebanho ou mesmo produtos manufaturados) ganham, nesse processo de venda, um salário. Isto é, a renda auferida por esses indivíduos que vendem bens no mercado é o seu salário.

Salário? Grave erro. Aquilo que é obtido por alguém que sai da autossuficiência agrícola para vender seus produtos no mercado não é um salário, mas, sim, um lucro. Ou um prejuízo. Lucros ou prejuízos são obtidos apenas por empreendedores. Por definição, portanto, essa pessoa poderia ser um agricultor ou um profissional liberal qualquer em alguma cidade.

O salário é uma forma de pagamento que surge apenas quando um capitalista entra em cena. O capitalista é a pessoa que irá fazer uso de bens previamente produzidos, colocando-os em empreendimentos arriscados. Ele é aquele que compra ou paga por um bem ou serviço para, apenas mais tarde, vender algo cujo valor total é maior do que a soma das partes utilizadas nesse processo. E isso poderá ser determinado somente se o produto for vendido: este é o único sinal — um sinal ausente em economias socialistas — de que a sociedade está criando valor agregado.

Smith erra sobejamente quando chama de salários aquilo que empreendedores obtêm quando comercializam bens nas cidades. Um salário só passa a existir quando uma pessoa contrata uma outra, pagando-lhe regularmente uma quantia fixa. Podemos chamar isso de 'o pacto do capitalismo', pois significa que o empregado agora faz parte do risco empreendedorial assumido pelo capitalista. Em troca, o empregado recebe uma renda fixa (diária, mensal etc.) — ou seja, um salário.

Empregados assalariados não têm possibilidade de auferir lucros, porém — e ainda mais importante — estão livres de prejuízos. Com efeito, os empregados têm mais chance de receber renda do que o capitalista. O fazendeiro, por exemplo, deve pagar os salários de seus empregados mesmo que tenha havido uma geada no dia anterior à colheita. Os empregados, por sua vez, estão isentos do ônus do prejuízo. Tampouco pode o fazendeiro, para sermos justos, compartilhar com eles seus lucros. Uma empresa farmacêutica irá vender seus produtos somente quatro ou cinco anos após a ideia inicial de se criar esses novos produtos. Nesse meio tempo, ela terá de pagar salários para centenas, talvez milhares, de pessoas. O salário é pago hoje independentemente de como serão as vendas futuras.

Assim, o problema — brilhantemente ensinado pelo professor George Reisman — é que o erro compartilhado por Smith e Marx gerou a ideia de que, para obter lucros — a famosa "mais-valia" exploradora —, os capitalistas tinham de manter para si parte do salário de cada empregado. A realidade é outra. A realidade é que a riqueza é criada por aquele indivíduo que sabe como transmitir suas visões, arriscar recursos e reconhecer oportunidades — tudo isso ao mesmo tempo em que ele cria uma renda regular para terceiros durante esse processo.

O capitalismo cria uma classe média mundial. Antes dos capitalistas, todos tinham de assumir por completo todo o risco de uma dada atividade. Já hoje, podemos delegar os riscos para aqueles que são mais ambiciosos e mais capacitados para atividades empreendedoras, já sabendo que, no final do mês, receberemos nossos contracheques. Tal arranjo é infinitamente mais produtivo e eficaz. Em última instância, é ele quem elimina a pobreza.


Talvez pareça não ter dito muita coisa, mas essa conclusão ajuda a gente a destruir algumas idiotices que aprendemos durante anos na escola, como a idéia de que todo empresário explora seus empregados. Ele simplesmente compra dos empregados o risco, que, por terem a possibilidade de perda reduzida (um empregado demitido só perde seu salário, um empresário falido perde além de sua fonte de renda, parte do patrimônio que levou anos pra construir, às vezes todo o patrimônio), também abrem mão da possibilidade de ganhos maiores.

Há um artigo maior que explica isso melhor. Pra quem quiser ler depois, com calma (porque é maior): http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1368
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Mensagem por HardDisk Seg Jul 30, 2012 4:42 pm

Kusanagi escreveu: (...)
Há um artigo maior que explica isso melhor. Pra quem quiser ler depois, com calma (porque é maior): http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1368

Quero saber o que Marx chama de "tempo de trabalho necessário", pois acho que meu entendimento está incorreto.

O artigo define isso como "tempo (T, em horas) para produzir todos os alimentos e todas as necessidades de que ele precisa para ser capaz de trabalhar 2T".

Entendo a parte de "produzir" alimento, nesse caso, ele pode estar querendo dizer "pagar o seu alimento".

A parte que eu não entendo é: "todas as necessidades de que ele precisa para trabalhar", pois eu acho que as máquinas, ferramentas, etc. estão incluídas dentro do conjunto acima.

Mas o trabalhador não precisa produzir de novo as ferramentas ou máquinas que ele vai utilizar, pois elas já estão prontas, portanto, não é necessário gastar mais tempo com elas. Só se Marx usou outro eufemismo e quis dizer manutenção das ferramentas, e outras amenidades.

O meu entendimento está correto ou Marx falou outra besteira?
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Mensagem por Kusanagi Seg Jul 30, 2012 7:47 pm

HardDisk escreveu:Quero saber o que Marx chama de "tempo de trabalho necessário", pois acho que meu entendimento está incorreto.

O artigo define isso como "tempo (T, em horas) para produzir todos os alimentos e todas as necessidades de que ele precisa para ser capaz de trabalhar 2T".

Entendo a parte de "produzir" alimento, nesse caso, ele pode estar querendo dizer "pagar o seu alimento".

A parte que eu não entendo é: "todas as necessidades de que ele precisa para trabalhar", pois eu acho que as máquinas, ferramentas, etc. estão incluídas dentro do conjunto acima.

Mas o trabalhador não precisa produzir de novo as ferramentas ou máquinas que ele vai utilizar, pois elas já estão prontas, portanto, não é necessário gastar mais tempo com elas. Só se Marx usou outro eufemismo e quis dizer manutenção das ferramentas, e outras amenidades.

O meu entendimento está correto ou Marx falou outra besteira?

Marx não avaliava as coisas em termos específicos. A teoria dele é que o valor das coisas era dado pela quantidade de tempo que um (ou mais) trabalhador(es) gastava(m) pra fazer as coisas. Ou seja, o preço de um navio deveria ser o custo de todos o esforço despendido pra construí-lo, o que inclui horas de trabalho de lenhadores, mais horas de trabalho de marceneiros, mais horas de trabalho de construtores, por exemplo. O preço de um martelo também viria do preço de cada insumo (o ferro e a madeira), que por sua vez teriam os preços dados pelas horas trabalhadas em cada um, mais o preço do tempo gasto pelo artesão que juntou a madeira e o ferro. (No caso da madeira, seria a soma do tempo do lenhador com a do tempo do cara que serra a madeira, etc., no caso do ferro, seria a soma do tempo gasto pelo mineiro com o tempo gasto pelo ferreiro, etc.). No caso que você perguntou, eu chuto que provavelmente ele sequer pensou nisso. Deve ter pensado que a hora do sapateiro custa a fração do tempo que ele trabalha pra conseguir o sustento dele e da sua família, o que inclui os equipamentos que ele eventualmente compra e, de tempos em tempos precisa substituir.

Seguindo a lógica Marxista, podemos deduzir que um diamante de 1 quilate mineirado há 1 quilômetro de profundidade na terra vale mais do que um diamante de 10 quilates encontrado por acidente ao escalar uma montanha. Sim, é imbecilidade, mas foi o argumento que ele usou pra construir toda a sua teoria econômica, e chegar a conclusões como a "mais valia" e a "alienação econômica", ambas praticamente sinônimo de "exploração". Alguém enriquece porque outro alguém é extorquido e explorado.

Analisando agora, eu vejo que esse argumento ingênuo foi concebido e sobrevive até hoje porque as pessoas têm o desejo de serem recompensadas proporcionalmente a seus esforços, e elas só enxergam os esforços imediatos delas mesmas e dos outros, mas sempre avaliam os delas mesmas como maior que o alheio. Óbvio que todo esse processo é puramente emocional. Até porque elas não são capazes de sentir o que as outras pessoas sentiram ao longo de diversas experiências que as levaram a serem mais competentes ou mais capacitadas do que elas próprias, não sentiram os sacrifícios que foram feitos, não enxergam esse fato que foi exposto no artigo, de que ao aceitarem um emprego, elas estão vendendo o (quanto conseguem do) risco delas, nem enxergam quanto sacrifício foi feito pra se juntar capital. É normal se sentir explorado, especialmente se você passou muito tempo se dedicando a alguma coisa que depois não foi recompensada, e outros que investiram em coisas que agradaram mais aos outros, conseguem ser mais recompensados tendo se dedicado menos. As relações de causa e efeito estão todas distorcidas! O que é bem Marxista, porque ele conseguia ser contra o estado e concluir que a única maneira de eliminar o estado era maximizando-o até que as pessoas desaprendessem o "senso de propriedade", e então não haveria mais desigualdade no mundo. Fato... só se perde o senso de propriedade morto, então, com toda a humanidade morta, todos seríamos realmente iguais.

Voltando ao assunto, foi por tudo isso que eu havia dito ao Ivan, há alguns tópicos, que é totalmente inútil exigir um grau de educação mínimo pra políticos, mais ainda exigir uma prova. Quem vai fazer a porra da prova vai ser alguém que acredita em toda essa merda que Marx e seus discípulos escreveram, e ela vai ser totalmente direcionada pra só passar quem pensa assim. Se você ver os número de aprovados na prova da OAB, que costumam ser menores que 10%, você se alarda e pensa que as faculdades de direito são todas umas merdas. Será mesmo? Se fosse na prova do CREA (que até onde eu sei, não existe) eu até diria isso das faculdades de engenharia, porque o conhecimento de engenharia é técnico-científico, o conhecimento de humanas e sociais é muito fortemente influenciado pela ideologia que se segue, e até hoje Marx foi o pensador que mais influenciou a classe "intelectual" justamente por sua filosofia demagoga. Até porque, o que justificaria existirem tantos doutores em filosofia, antropologia, economia, sociologia, etc. sem essas idéias? Esses caras iam ter que se virar lavando chão. Ou gastando anos pra aprender alguma coisa (após jogar fora praticamente todos os anos que perdeu estudando o que estudou) que realmente beneficiasse os outros a ponto desses outros estarem dispostos a pagar pelo benefício. Eu sei em primeira mão como isso dói, porque eu perdi 6 anos da minha vida tentando fazer cursos universitários que eu não consegui levar até o fim. Se sentir incompetente dói pra caralho, é mais fácil botar a culpa nos outros, especialmente no sistema.
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Mensagem por Kusanagi Seg Jul 30, 2012 11:29 pm

O socialismo não deu nem tem como dar certo porque os seres humanos são movidos por incentivos. Tanto negativos, quanto positivos. Se todos forem tratados de maneira igual, as pessoas perdem a motivação tanto pra melhorar, quanto pra sequer produzir alguma coisa pra se manter vivo. No limite, temos o que o vídeo abaixo mostra:

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Mensagem por Kusanagi Qua Ago 01, 2012 11:32 pm

"Santa poupança!"

Episódio (cortado e "anotado" genialmente) do desenho "Duck Tales" explicando como se forma a inflação!



Por mil baús! Estamos fodidos!!!
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Mensagem por JoniMancow Dom Ago 05, 2012 8:16 am

Kusanagi escreveu:
Voltando ao assunto, foi por tudo isso que eu havia dito ao Ivan, há alguns tópicos, que é totalmente inútil exigir um grau de educação mínimo pra políticos, mais ainda exigir uma prova.

A constituição diz que todo brasileiro é um "acionista" e tem poder de decisão no Brasil. Também diz que pode-se passar a representação desse poder para qualquer pessoa. Essa qualquer pessoa inclui qualquer pessoa independente de ideologia ou grau de educação. Vale citar que qualquer pessoa é literalmente qualquer pessoa, em teoria, independente de partido político pois o poder é meu e o passo para quem eu quiser. Povo desconhecendo o seu real poder + burocracia favorável a rabo preso = políticos sendo enfiados goela abaixo.

Atual método goela abaixo de repasse de poder em 3 passos:

1 - Partido lança o candidato.
2 - Povo, achando que isso é "normal", faz sinal de positivo "aprovando" o candidato e indiretamente o sistema.
3 - Político empossado através do repasse "espontâneo" de poder.

Método básico da constituição:

1 - Passo meu poder pro Kusa.
2 - Kusa liga pra Dilma pra tentar fazer a constituição valer. Mas liga com cuidado pois quem falou com ela por telefone disse que sentiu uma mão invisível por trás.

Kusanagi escreveu:
O socialismo não deu nem tem como dar certo porque os seres humanos são movidos por incentivos. Tanto negativos, quanto positivos. Se todos forem tratados de maneira igual, as pessoas perdem a motivação tanto pra melhorar, quanto pra sequer produzir alguma coisa pra se manter vivo.

Exatas, com incentivo do governo, se dão bem no socialismo. Como por exemplo um cientista que sente prazer em resolver questões de física/química. O que eles pedem é condições de vida relativamente boa, aparelhagem e suprimentos adequados em seus laboratórios. A motivação é fornecida pelas descobertas feitas por eles mesmos. Humanas que tem fogo no rabo com carência de motivação em qualquer situação.

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Mensagem por Kusanagi Qui Ago 09, 2012 11:08 am

Eu ia gastar um tempinho refutando ou respondendo os argumentos do Joni, mas a preguiça me ownou, por isso, contentem-se com este excelente artigo.

Fonte: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1378


Como as obras públicas subtraem riqueza da população

por Henry Hazlitt, quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Não existe crença mais persistente e mais influente do que a crença no fato de que gastos governamentais são benéficos para todos. Em todos os cantos do globo eles são apresentados como a solução para todas as mazelas econômicas. A indústria está parcialmente estagnada? Podemos estimulá-la por meio de gastos governamentais. O desemprego está alto? Culpa do "insuficiente poder aquisitivo das pessoas". O remédio, claro, é óbvio: aumentar os gastos do governo.

Todo o necessário para corrigir a situação é o governo despender o suficiente para compensar estas "deficiências".

Uma vasta literatura se baseia nesta falácia, e, como muitas vezes acontece com doutrinas dessa espécie, tornou-se parte de uma complexa rede de falácias que se sustentam mutuamente. Não podemos, a esta altura, investigar toda essa rede; mas podemos, aqui, examinar a falácia-mãe que deu nascimento a essa progênie.

Tudo o que não é oriundo das dádivas livres da natureza tem, de certo modo, que ser pago. O mundo, no entanto, está repleto de pseudo-economistas que estão cheios de planos para obter alguma coisa em troca de nada. Dizem-nos que o governo pode gastar livremente sem ter de tributar; que pode continuar a acumular dívidas sem jamais ter de liquidá-las, pois "nós devemos a nós mesmos". Ao longo da história, todos os belos sonhos deste tipo foram sempre destruídos pela insolvência nacional ou por uma inflação galopante. Devemos aqui dizer, simplesmente, que todos os gastos governamentais terão, na prática, de ser pagos pela tributação.

Sim, pode-se recorrer à inflação monetária para se financiar estes gastos. Porém, a própria inflação monetária não passa de uma forma — particularmente anormal — de tributação. A inflação monetária gerará dois fenômenos: redistribuição de renda dos mais pobres para os mais ricos e aumento de preços, fenômeno este que também penalizará com mais severidade os mais pobres. A inflação é um imposto.

Em prol da argumentação, vamos admitir aqui que cada unidade monetária gasta pelo governo deverá ser arrecadada imediata ou posteriormente por meio de imposto. Uma vez considerada a questão nesse sentido, os supostos milagres dos gastos governamentais aparecerão sob outro prisma.

O governo continuamente gasta um determinado montante para cumprir suas despesas correntes: pagar seus funcionários, sua burocracia, redistribuir renda e fazer suas corriqueiras obras públicas. Tais gastos não serão o escopo deste artigo. Quero aqui tratar daquelas obras públicas consideradas como meios de se "criar empregos" ou de se aumentar a riqueza da sociedade, sem as quais — afirmam alguns economistas — tal enriquecimento não seria possível.

Constrói-se uma ponte. Se ela é construída para atender a uma demanda pública insistente; se ela soluciona um problema de tráfego ou de transporte, insolúveis sob outra forma; se, em suma, ela é mais necessária aos contribuintes coletivamente do que coisas com as quais eles individualmente gastariam seu dinheiro — se este não lhes houvesse sido tirado por meio dos tributos —, então sua construção pode ser aproveitável (embora seja praticamente impossível determinar que absolutamente todos os pagadores de impostos realmente queiram esta ponte).

Por outro lado, uma ponte construída com o intuito de "gerar empregos" é um outro tipo de ponte.

Quando "gerar empregos" se torna o objetivo, a real necessidade de algo passa a ser uma consideração secundária. O que importa é inventar "projetos". Em vez de pensarem apenas naqueles locais específicos onde há uma suposta demanda popular por uma ponte, os responsáveis pelo dinheiro público começam a se perguntar onde mais podem sair construindo outras pontes. Mesmo que a construção de pontes não esteja sendo demandada, o empreendimento será feito. Aqueles que duvidarem desta necessidade serão tachados de obstrucionistas, atrasados, insensíveis e reacionários.

Normalmente, são apresentados dois argumentos para a construção de uma ponte: um, aquele que se ouve principalmente antes de ele ser construída; o outro, aquele que frequentemente se ouve depois de ele estar concluída. O primeiro argumento é que a construção proporcionará empregos. Proporcionará, digamos, 500 empregos durante um ano. A implicação disso é que esses empregos, de outra forma, não existiriam.

Isso é o que se vê de imediato. Se estamos, porém, treinados na ciência econômica; se sabemos enxergar as consequências secundárias de determinadas medidas econômicas, então somos capazes de ver mais além. Podemos, neste caso, saber que, além daqueles que são diretamente beneficiados por um projeto governamental, haverá outros que serão indiretamente afetados.

Neste ponto, o cenário passa a ser diferente. É verdade que determinado grupo de operários terá agora empregos, o que não ocorreria não fosse a construção da ponte. A ponte, porém, tem de ser paga com impostos, pois todo dinheiro gasto pelo governo tem de ser tirado dos contribuintes. Se a ponte custa $10 milhões, os contribuintes perderão $10 milhões. Os cidadãos deixarão de ter uma quantia que, não fosse a construção da ponte, seria despendida em coisas que voluntariamente considerassem mais necessárias. Os empreendimentos que agora não mais receberão este dinheiro — que foi desviado para a construção da ponte — começarão a demitir.

Portanto, para cada emprego público criado pelo projeto da ponte, foi destruído, em algum lugar, um emprego particular. Podemos ver os operários empregados na construção da ponte. Podemos vê-los trabalhando. Esta imagem real faz com que o argumento do governo — gerar empregos — se torne vívido, tangível e, muito provavelmente, convincente para a maioria das pessoas.

Há, no entanto, outras coisas que não vemos porque, infelizmente, não se permitiu que surgissem. São os empregos destruídos pelos $10 milhões tirados dos contribuintes. Na melhor das hipóteses, tudo o que aconteceu foi uma transferência de empregos por causa de um projeto. Mais operários para a construção da ponte; menos operários para a indústria automobilística, menos técnicos de rádio, menos empregados para fábricas de artigos de vestuário e para a agropecuária.

Chegamos, então, ao segundo argumento. A ponte existe. É, suponhamos, uma ponte realmente bonita. Surgiu graças à magia dos gastos governamentais. O que teria acontecido se os obstrucionistas e os reacionários tivessem imposto sua vontade? Não haveria a ponte. O país estaria mais pobre, afirmam eles.

Nisso, os responsáveis pelo dinheiro público, mais uma vez, levam a melhor ao debaterem com todos aqueles que não têm a capacidade de enxergar além do alcance imediato de seus olhos. Todos podem ver a ponte. Mas apenas aqueles mais versados em economia são capazes de perceber as consequências indiretas e não perceptíveis deste arranjo; apenas estes podem, mais uma vez, enxergar todas aquelas riquezas que nunca chegarão a existir. Podem enxergar casas que não foram construídas, automóveis, rádios, imóveis e roupas não fabricados, e talvez até mesmo alimentos que não foram cultivados e nem vendidos. Ver esses elementos que não foram criados requer certa imaginação e certo treino econômico, algo que nem todo mundo possui.

Podemos imaginar imediatamente esses objetos, mas não podemos ver sua existência. Por outro lado, podemos ver a ponte e utilizá-la todos os dias ao irmos para o trabalho. Simplesmente o que aconteceu foi que uma coisa foi construída em vez de várias outras.

O mesmo raciocínio aplica-se, naturalmente, a quaisquer outros tipos de obras públicas. Aplica-se também, por exemplo, à construção, com fundos públicos, de habitações para pessoas de baixa renda. O que acontece é que o dinheiro é arrancado, por meio de impostos, de famílias de renda mais elevada (e, talvez, até de famílias de renda menor) para forçá-las a financiar famílias selecionadas, de renda inferior, capacitando-as a viverem em melhores moradias.

Não é meu intuito aqui discorrer sobre questões morais no que tange à construção de moradias com dinheiro público. Interessa-me apenas apontar o erro em dois dos argumentos mais frequentemente apresentados a favor desse tipo de construção. Um, é o de que ela "gera empregos"; o outro, o de que ela cria riquezas que, sem estas obras, não teriam sido produzidas. Ambos os argumentos são falsos, uma vez que não levam em consideração o que se perde pela tributação. A tributação para a construção de moradias, com fundos públicos, destrói tantos empregos em outras atividades quanto cria na de construção. O resultado é a não construção de imóveis, a não fabricação de máquinas de lavar roupa e geladeiras e a falta de inumeráveis outros bens e serviços.

E nada disso é refutado pela contra-argumentação que diz, por exemplo, que a construção de moradias com dinheiro público pode ser financiada por várias parcelas anuais, em vez de por uma quantia a ser paga de uma só vez. Isso significa simplesmente que o custo passa a ser distribuído por muitos anos, em vez de concentrar-se em um só. Significa, também, que o que se tira dos contribuintes é distribuído por muitos anos, em vez de concentrar-se num só. Tais detalhes técnicos são irrelevantes para o ponto principal.

A grande vantagem psicológica a favor da construção de moradias com dinheiro público está no fato de que é possível ver homens trabalhando enquanto estão sendo construídas as casas, e que estas são vistas depois de finalizadas. Passam a ser habitadas e os moradores, orgulhosamente, mostram as dependências aos amigos. Não se veem os empregos destruídos pelos impostos destinados às moradias, nem os bens e serviços que deixaram de ser ofertados. Isso exige um esforço de pensamento. E, a cada vez que se veem as casas e seus felizes moradores, um novo esforço é necessário para se imaginar toda a riqueza que por causa disso não foi criada.

É de se surpreender que os defensores da construção de moradias com dinheiro público não tenham considerado esse ponto. Se alertados sobre isso, tacham-no de pura imaginação, de simples objeção teórica, ao mesmo tempo em que realçam a beleza das moradias públicas existentes. Isso faz lembrar um personagem de Saint Joan, de Bernard Shaw, que, ao lhe falarem sobre a teoria de Pitágoras, segundo a qual a terra é redonda e gira em torno do sol, respondeu: "Que consumado idiota! Não podia ver isso com os próprios olhos?"

O mesmo raciocínio deve ser aplicado a todos os grandes projetos empreendidos pelo governo. Quanto mais faraônica a obra, maior o perigo da ilusão de ótica. Ali está uma gigantesca represa, um formidável arco de aço e concreto "maior que qualquer outro empreendimento que o capital privado pudesse ter construído", o fetiche dos fotógrafos, o símbolo mais frequentemente utilizado dos milagres da construção e da operação estatal. Ali estão gigantescos geradores e usinas de força. Ali está toda uma região, diz-se, elevada para o mais alto nível econômico, atraindo fábricas e indústrias que, de outro modo, não teriam existido. E tudo é apresentado, nos louvores de seus proponentes, como sendo ganho econômico líquido para o país, sem contrapartidas.

De novo, não vamos aqui entrar novamente no mérito das obras públicas. Vamos apenas nos concentrar no esforço da imaginação, algo de que poucas pessoas são capazes, para ver o lado devedor da equação. Se os impostos, arrecadados de pessoas e empresas, são aplicados em determinada região de um país, por que motivo causaria surpresa, por que deveria ser considerado um milagre que esta região se tenha tornado relativamente mais rica? Outras regiões do país, sempre é válido lembrar, se encontram, em decorrência disso, relativamente mais pobres.

Aquele empreendimento tão grande que "o capital privado não teria podido realizar", foi, na verdade, realizado pelo capital privado — pelo capital expropriado mediante imposto (ou, se o dinheiro foi tomado como empréstimo, acabará sendo expropriado também com impostos, só que mais no futuro).

É necessário, novamente, fazer um esforço de imaginação para vermos os edifícios comerciais e as habitações particulares, os automóveis e os aparelhos de televisão cuja existência não foi permitida, pois o dinheiro que foi extraído do povo, em todo o país, foi empregado na construção de uma fotogênica obra pública.

Escolhi aqui propositadamente os mais favoráveis exemplos de projetos de dispêndios públicos — isto é, aqueles que são mais frequente e ardentemente aconselhados pelos agentes governamentais e mais altamente considerados pelo público. Não falei das centenas de projetos frívolos que, invariavelmente, surgem sempre que o objetivo principal é "gerar empregos" e "colocar gente para trabalhar". Isso porque, conforme vimos, a utilidade do próprio projeto torna-se, inevitavelmente, uma consideração secundária. Além disso, quanto mais extravagante a obra, quanto mais dispendioso o trabalho, quanto maior o custo da mão-de-obra, tanto melhor para o objetivo de gerar mais empregos.

Sob tais circunstâncias, é altamente improvável que os projetos inventados pelos burocratas proporcionem o mesmo aumento líquido à riqueza e ao bem-estar, por unidade monetária gasta, como teria sido proporcionado pelos próprios pagadores de impostos se, individualmente, o governo lhes tivesse permitido comprar ou fazer o que eles mesmos desejassem em vez de serem forçados a entregar parte de suas poupanças ao estado.
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Mensagem por JoniMancow Qui Ago 09, 2012 11:41 am

Kusanagi escreveu:Eu ia gastar um tempinho refutando ou respondendo os argumentos do Joni, mas a preguiça me ownou, por isso, contentem-se com este excelente artigo.

O que eu falei da constituição não é argumento e sim a lei atual.

O que eu falei de exatas não é baseada em valores. Certamente você iria dizer que a iniciativa privada financia muitas pesquisas e o governo não precisa gastar com elas. Mas o que eu quis dizer é que exatas não fica estagnada. Da forma que você falou era que no socialismo tudo parava.
A antiga URSS passou por uma crise que incluía bens materiais de consumo próprio. Porém existem documentos enviados a casa branca que diziam que o governo dos EUA tinham que investir pesado em educação ou iriam ficar pra trás no ramo científico.

Em nenhum momento tentei contradizer seu argumento. Apenas falei de algo que funciona. Pode não ser a melhor forma ou opção mas bem ou mal funciona. Esse argumento foi referente ao:

Kusanagi escreveu:
quanto pra sequer produzir alguma coisa

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Mensagem por Kusanagi Qui Ago 09, 2012 3:28 pm

Tá bom, Joni, vou tentar responder rapidinho pra você não ficar sentido. XD

JoniMancow escreveu:
Kusanagi escreveu:
Voltando ao assunto, foi por tudo isso que eu havia dito ao Ivan, há alguns tópicos, que é totalmente inútil exigir um grau de educação mínimo pra políticos, mais ainda exigir uma prova.

A constituição diz que todo brasileiro é um "acionista" e tem poder de decisão no Brasil. Também diz que pode-se passar a representação desse poder para qualquer pessoa. Essa qualquer pessoa inclui qualquer pessoa independente de ideologia ou grau de educação. Vale citar que qualquer pessoa é literalmente qualquer pessoa, em teoria, independente de partido político pois o poder é meu e o passo para quem eu quiser. Povo desconhecendo o seu real poder + burocracia favorável a rabo preso = políticos sendo enfiados goela abaixo.

Atual método goela abaixo de repasse de poder em 3 passos:

1 - Partido lança o candidato.
2 - Povo, achando que isso é "normal", faz sinal de positivo "aprovando" o candidato e indiretamente o sistema.
3 - Político empossado através do repasse "espontâneo" de poder.

Método básico da constituição:

1 - Passo meu poder pro Kusa.
2 - Kusa liga pra Dilma pra tentar fazer a constituição valer. Mas liga com cuidado pois quem falou com ela por telefone disse que sentiu uma mão invisível por trás.


A comparação com acionistas não é boa, e vou desenvolver o raciocínio do porquê. Pra quem não sabe, ações são frações da sociedade de uma empresa. Numa empresa, realmente cada acionista possui uma influência sobre os tomadores de decisões, no entanto, se eles não gostarem da decisão da assembléia, basta eles venderem o papel pra outro, pelo melhor preço que eles conseguirem. A empresa tendo lucro, ela paga a todos os acionistas dividendos anualmente, que são a distribuição do lucro, além disso, as empresas têm objetivos pré-definidos pela diretoria e conselho de administração, e quem quer investir nela, pode dar uma olhada no planejamento estratégico pra projetar se vale a pena. Os acionistas que acham que vale a pena continuar investindo na empresa, decidem mensalmente em assembléias ordinárias sobre os rumos que a empresa deve tomar. Óbvio que quem tem mais ações (o que significa quem contribuiu mais financeiramente para a existência e operações da empresa) tem mais votos. Se o presidente da empresa está fazendo merda, no mês seguinte a assembléia pode substituí-lo. Se o diretor de Marketing convenceu todo mundo a investir num produto que foi um fracasso, a assembléia pode trocá-lo. Ou pode mantê-lo, mas em prejuízo próprio.

Com países, a coisa não funciona bem assim. Eu nasci brasileiro, e não tenho como me livrar disso. É verdade que eu posso votar, mas eu não posso escolher o candidato que eu quero. Pra alguém se candidatar a qualquer cargo público, precisa ser filiado a um partido. Um partido precisa, simplesmente pra existir, de 500.000 "votos" de "acionistas" (leia-se 500.000 assinaturas) pra ser legitimado. Só existir não garante muita coisa a ele, pois o candidato a candidato tem que ser escolhido pelo partido pra poder se candidatar. Os partidos já estabelecidos possuem um tempo de TV maior, leia-se, um tempo em que as emissoras de TV são OBRIGADAS a dar pra eles se divulgarem. Independente disso, o importante é que o direito de se candidatar não é democrático. O povo também não pode pré-selecionar os candidatos, e outros fatores extremamente importantes:

- Não podemos tirar o candidato a qualquer tempo, precisamos esperar o fim do mandato (em empresas, isso acontece);
- Não há como medirmos o "desempenho" de um governo, só podemos ter impressões a respeito dele (em empresas, há um objetivo comum bem claro: obter retorno sobre o dinheiro que foi investido);
- Pra me tornar acionista de uma empresa, eu tenho que comprar ações dela, ou seja, eu tenho que fazer um sacrifício pessoal, dar uma contribuição financeira voluntária, para ter direito a dar pitaco (e dependendo do tipo de ação, eu posso fazer o sacrifício mas não posso dar pitaco), no entanto, num estado de direito democrático, ninguém precisa dar nenhuma contribuição pra ter direito a decidir o rumo que o governo vai dar ao dinheiro tirado dos outros à força através de impostos.
- Por fim, se eu discordar ao extremo das políticas da "alta administração" do país, não posso simplesmente vender (nem mesmo DAR ou jogar fora) minha "participação" no Brasil e me excluir dos efeitos das políticas realizadas pelo governo. Se eu quiser, eu tenho que me mudar pra outro país, o que envolve conseqüências que desestimulam a maioria das pessoas, o que frequentemente as leva a ficarem com o "menos ruim" dos mundos. Já sendo acionista de uma empresa, eu posso me livrar integralmente de todas as consequências - positivas e negativas - de ser sócio dela, vendendo as ações. Talvez eu tenha prejuízo no processo, mas eu limitei o meu prejuízo no momento que escolhi se comprava ações, quantas ações eu queria comprar, e a que preço eu compraria ou não. Não posso escolher que impostos pagar, quanto pagar de alíquota em cada um deles, e aqui no Brasil, nem posso saber exatamente o quanto de impostos eu estou pagando em cada mercadoria que compro ou serviço que contrato.

Governos só precisam agradar à maioria, que ele - o estado - faz questão de manter ignorante e afetável pelas suas políticas que primeiro tiram a riqueza da população, depois devolvem parte dela a alguns cidadãos através de saúde pública, educação pública, intraestrutura e programas assistencialistas. Ah, sim! E da burocracia estatal. Empresas precisam agradar a seus consumidores pra sobreviver, senão eles simplesmente matam a empresa deixando de comprar. Mesmo se um bem ou serviço for considerado extremamente essencial (por exemplo: energia elétrica), se só há uma empresa que vende esse bem/presta esse serviço, você sempre tem a opção de viver sem ele.

Eu sei que você está falando de fatos, de "como o mundo é", mas eu também estou falando de fatos. Estou simplesmente desmembrando o "como o mundo é" de uma perspectiva que a gente nunca vai ouvir falar em escolas e faculdades, até porque, quem determina o conteúdo programático dos cursos é um órgão do governo: o MEC...

JoniMancow escreveu:
Kusanagi escreveu:
O socialismo não deu nem tem como dar certo porque os seres humanos são movidos por incentivos. Tanto negativos, quanto positivos. Se todos forem tratados de maneira igual, as pessoas perdem a motivação tanto pra melhorar, quanto pra sequer produzir alguma coisa pra se manter vivo.

Exatas, com incentivo do governo, se dão bem no socialismo. Como por exemplo um cientista que sente prazer em resolver questões de física/química. O que eles pedem é condições de vida relativamente boa, aparelhagem e suprimentos adequados em seus laboratórios. A motivação é fornecida pelas descobertas feitas por eles mesmos. Humanas que tem fogo no rabo com carência de motivação em qualquer situação.

Discordo do seu comentário sobre cientistas de ciências humanas e sociais. Aliás, nós vivemos num dos países mais socialistas do mundo no que tange à pesquisa científica. O estado mantém universidades caríssimas pra desenvolver pesquisas utilíssimas à população, como "qual o tamanho ideal da fatia de queijo", por exemplo. No mundo inteiro o maior financiador de pesquisa é o estado, o que significa que dinheiro é retirado de todo mundo para financiar projetos pelos quais os cientistas se interessam.

Em países que o estado se mete menos com isso, como os EUA (em termos RELATIVOS, porque em termos absolutos o investimento ainda é bem maior do que o nosso), as empresas pagam MUITO BEM a cientistas que desenvolvem projetos e teorias que interessam a elas. Seja porque essas pesquisas irão ajudar a desenvolver a tecnologia existente, seja porque e acredita que elas vão criar novas tecnologias que vão efetivamente beneficiar as pessoas, pois se tornarão produtos comercializáveis. Se não beneficiarem tantas pessoas, só os acionistas da empresa saíram no prejuízo, risco este que eles escolheram correr ao financiarem a pesquisa.

Certamente esse arranjo científico capitalista não beneficiaria os intelectuais de humanas, apenas alguns cientistas práticos, como alguns economistas, alguns administradores, alguns psicólogos, etc. No modelo mais socialista, como é hoje, não falta verba pra financiar cientistas cujas pesquisas são ou inúteis, ou voltadas pra propaganda socialista/estatista. Obviamente, como eles são financiados pelo estado, nunca vão fazer uma tese expondo como a interferência estatal atrapalhou a sociedade. Ou como a concessão de direitos trabalhistas prejudica os próprios trabalhadores, por exemplo.

Quando eu tiver mais tempo, talvez eu exponha melhor.

Valeu!


Última edição por Kusanagi em Qui Ago 09, 2012 8:52 pm, editado 2 vez(es)
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O que distingue as ciências sociais das naturais Empty Re: O que distingue as ciências sociais das naturais

Mensagem por Kusanagi Qui Ago 09, 2012 8:42 pm

Dei uma pequena melhorada à resposta ao Joni.

Fora do assunto, mas dentro do contexto:



Voltando ao assunto, o GRANDE problema do estado, inclusive do democrático.



É foda o fato de que, por mais que tente, não consigo encontrar argumento bom contra esses. Eu vejo muita utilidade no estado (para os mais pobres), eu vejo uma foda sem tamanho na privatização total da justiça e da segurança públicas (não vejo na educação nem na saúde, e minhas emoções geram uma forte resistência a defender o fim completo da saúde pública), vejo problema no sistema de leis privadas, mas não consigo contra-argumentar quando dizem que o estado é um ladrão e ponto final. A lógica por trás disso está no vídeo, e essa realidade me deixa triste, muito triste...
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O que distingue as ciências sociais das naturais Empty Re: O que distingue as ciências sociais das naturais

Mensagem por JoniMancow Qui Ago 09, 2012 9:04 pm

A comparação com acionistas foi de forma alegórica. Não foi minha intenção compara-lós da forma que você colocou.

É errado dizer que não podemos tirar o candidato a qualquer tempo e que precisamos esperar o fim do mandato.
A base da constituição diz que o povo nunca perde seu direito. O povo pode não exercê-lo mas em momento algum o perde. A constituição diz que você pode passar o seu poder decisório a qualquer um e tirar a qualquer momento. Para não ficar uma zoeira cria-se um sistema com emendas constitucionais. A base da constituição é imutável, enquanto durar, para se evitar troca troca da mesma a bel-prazer. Mas as emendas podem ser mudadas.
Acontece que o povo se acostumou a ficar na boa frente a isso. O governo martela tando uma ideia que ela acaba ficando como definitiva.

Quanto a pesquisa científica eu me referia a pesquisas úteis. Várias tecnologias foram criadas, algumas ao acaso, somente com capital governamental e que hoje são amplamente utilizadas. A pesquisa cientifica não deve esperar a boa vontade das empresas. Por exemplo esperar a ação delas quanto as doenças negligenciadas.

A da manteiga você pegou numa SI velhona? xD

Mas as coisas vão melhorar pois ele está chegando...

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O que distingue as ciências sociais das naturais Empty Re: O que distingue as ciências sociais das naturais

Mensagem por Kusanagi Qui Ago 09, 2012 10:02 pm

Porra! ELE é a solução! Como eu pude me esquecer?!

Mas... manteiga? SI?

Enfim... "o povo" pode exercer seu direito, não eu e você. O povo é um ente abstrato, e pra ele exercer de verdade seu direito, a gente tem que mobilizar milhares, provavelmente MILHÕES de pessoas. Vai fazer isso!

Por isso que grupos organizados conseguem seus privilégios. Gays, mulheres, negros, etc., se juntam por uma causa que os mobiliza emocionalmente, e eles conseguem privilégios que ninguém fora dos grupos "minoritários" tem às custas justamente de quem ficou de fora.

Você está certo quanto a muito do desenvolvimento científico ter se dado por causa do estado, no entanto, você não está vendo o quanto de desenvolvimento não aconteceu porque o dinheiro do estado estava sendo investido em outras pesquisas. Exatamente como o texto que eu postei hoje explica com detalhes. (Leia-o... e veja os vídeos também!)
Se a pesquisa ficasse 100% nas mãos das empresas, o ser humano nunca teria ido à lua ou a Marte, MAS a gente teria todos os recursos que foram investidos nisso sendo investidos em coisas que as pessoas se interessam genuinamente. Com certeza haveria curas pra mais doenças, mas, por exemplo, as pesquisas voltadas a encontrar curas de doenças que ainda não têm cura, ou de doenças cujo tratamento seja muito agressivo ao organismo, seriam priorizadas. Por quê? Porque isso dá mais dinheiro pra empresa do que descobrir um novo tratamento pra uma doença já tratável, mas cujos efeitos colaterais dos medicamentos atuais sejam relativamente leves. Óbvio que nesse processo, outras coisas seriam descobertas.

O sistema mais democrático que eu conheço é este (clique).
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O que distingue as ciências sociais das naturais Empty Re: O que distingue as ciências sociais das naturais

Mensagem por Kusanagi Ter Ago 14, 2012 11:18 am

Chupa, Lelouche!!!


O bem da maioria é uma tirania
por Wendy McElroy , terça-feira, 14 de agosto de 2012

Ainda no primeiro período de uma turma de filosofia, o professor apresenta à classe um cenário que parece desafiar a perspectiva dos estudantes acerca da questão da moralidade.

O desafio quase sempre é algo mais ou menos assim: "Absolutamente toda a nação da França irá morrer amanhã, a menos que você mate hoje o seu vizinho, que só tem mais um dia de vida. O que você faria?"

Ou: "Você pode erradicar completamente o câncer da face da terra ao simplesmente apertar um botão, o qual irá matar uma pessoa saudável. Você apertaria este botão?"

O propósito é criar um dilema moral. As perguntas contrapõem sua rejeição moral ao assassinato à sua culpa moral por não ter agido para salvar milhões de vidas.

Mas a realidade é que tais perguntas são um total engodo e simplesmente não podem ser respondidas de maneira honesta. Elas postulam um mundo paralelo no qual as regras da realidade, como causa e efeito, foram dramaticamente alteradas. Ou alguém realmente acredita que o simples apertar de um botão pode curar o câncer? Este mundo criado parece funcionar muito mais de acordo com a fantasia do que com a realidade.

E como meu código moral se baseia na realidade do mundo existente, digo apenas que não sei o que faria caso as regras vigentes deixassem de existir. Suponho que minha moralidade seria diferente, o que significa que minhas ações também seriam diferentes.

Por mais absurdas que sejam, tais perguntas são consideradas questões morais "difíceis". Ao ter de lidar com elas, alguns estudantes passam a crer, paradoxalmente, que estar em conformidade com a moralidade requer a violação da moralidade de uma maneira mais profunda. Afinal, não há maior violação do que o assassinato deliberado de outro ser humano.

Mas como pode a vida de uma pessoa ser mais importante do que as de milhões que estão em suas mãos? Neste ponto, a moralidade deixa de ser uma questão de princípios e se torna mero um jogo de números, uma simples questão de análise de custo-benefício. Isto não representa uma expansão da moralidade, como o professor alega, mas sim a criação de um conflito que destrói a moralidade. Em seu lugar passa a existir uma zona cinza moral, um vácuo para o qual o utilitarismo corre para preencher o espaço vazio.

Repentinamente, torna-se óbvio que o bem de muitos tem mais valor do que o assassinato de um só. O coletivo sobrepuja o indivíduo. A maioria torna-se mais importante do que a minoria. O utilitarismo firme e "factual" torna-se preferível à moralidade cinza e inconsistente.

As perguntas filosóficas levam diretamente à política, pois assassinar uma pessoa em nome do bem maior não é meramente uma questão moral, mas também uma questão de direitos individuais. Se você aceita a moralidade de tal ato, então você também aceita a conveniência e a autoridade política de se assassinar um ser humano inocente.

Quando formuladas em termos políticos, versões não-hipotéticas desta pergunta filosófica são frequentemente identificadas. Por exemplo, "Devem os ricos ou os empreendedores (os poucos) ser fortemente tributados para que se forneça saúde pública para os vários?" Aqui, um bem maior é contraposto aos direitos individuais. Mas, mais do que isso, os direitos individuais de dois grupos são confrontados, sendo que os direitos de uma minoria resistente passam a ser vistos como uma barreira aos "direitos de todos os outros". Empreendedores passam a ser considerados indivíduos que não têm nenhum direito de manter sua renda caso isso impeça a maioria de ter acesso gratuito a serviços médicos.

Este conflito criado politicamente é tão absurdo quanto aquele criado filosoficamente.

O individualista britânico do século XIX, Auberon Herbert, abordou esta questão do "bem da maioria". Disse ele: "Nunca foi inventada uma frase mais ilusória e capciosa do que essa. O Diabo estava no auge de seu perspicaz e engenhoso humor quando ele introjetou esta frase no cérebro dos homens. Eu a considero totalmente falsa em seus fundamentos."

Por que ela é falsa? Porque a frase parte do princípio de que uma moralidade mais elevada requer a violação de direitos individuais. Ou, nas palavras de Herbert, "Ela pressupõe que existem dois 'bens' opostos, e que um bem deve ser sacrificado em prol do outro. Só que, em primeiro lugar, isto não é verdade, pois a liberdade é um bem único e aberto a todos, e não requer nenhum sacrifício de terceiros; e, em segundo lugar, este falso antagonismo (onde nenhum antagonismo genuíno existe) entre dois bens distintos implica uma guerra perpétua entre os homens."

Herbert está se baseando em duas teorias intimamente relacionadas: a primeira, "a universalidade dos direitos"; e a segunda, "a harmonia natural dos interesses". A universalidade dos direitos significa que todos os indivíduos possuem os mesmos direitos naturais, sem exceções e sem privilégios.

Raça, gênero, religião ou outras características secundárias não interessam; somente a básica e primordial característica de ser um humano é que é importante. Uma harmonia natural de interesses significa que o exercício pacífico dos direitos individuais de uma pessoa não afeta e nem prejudica o similar exercício dos direitos individuais de qualquer outra pessoa.

Minha liberdade de consciência ou de expressão não proíbe a do meu vizinho. A autoridade pacífica que afirmo ter sobre meu próprio corpo não diminui ou afeta em nada a reivindicação de propriedade sobre si própria de nenhuma outra pessoa. Com efeito, quanto mais afirmo o princípio da propriedade sobre si próprio, mais robusto e mais garantido este princípio se torna para todas as outras pessoas.

Somente em um mundo onde os direitos não são universais, onde o comportamento pacífico das pessoas está em permanente conflito, é que faz sentido aceitar a necessidade de se sacrificar indivíduos em nome de um bem maior. Mas este não é o mundo real, e sim um mundo que foi criado para propósitos políticos.

Herbert explicou qual a suposição essencial que dá sustento a esse mundo falso: a aceitação automática do próprio conceito de "bem maior". Ele perguntou: "Por que dois homens devem ser sacrificados em prol de três homens? Todos nós aceitamos que três homens não devem ser sacrificados em benefício de dois homens; mas por que — em termos de questões morais — devemos aceitar aquilo que é quase tão ruim, imoral e tacanho, que é o sacrifício de dois homens em prol de três homens? Por que sacrificar sequer um... quando a liberdade exclui toda e qualquer necessidade de sacrifício?"

Herbert negava a validade "desta 'lei dos números', que é realmente a lei que estamos seguindo quando falamos de autoridade do estado [...] sob a qual três homens se tornam absolutamente supremos e dois homens se tornam absolutamente dependentes." Em vez de aceitar a lei dos números como uma expressão do bem maior, Herbert a via como uma construção social conveniente, rotulando-a de "uma lei puramente convencional, um mero recurso rude e parcialmente selvagem que não sobrevive a uma crítica guiada pela razão. É impossível defender tal lei utilizando considerações sobre justiça universal. Seu proponente pode apenas confessar a conveniência de sua implementação."

Para quem era conveniente a criação de um conflito social? Por que criar um mundo artificial repleto de conflitos? Para solucionar os problemas criados, uma grande fatia de poder foi retirada dos indivíduos e transferida para uma classe governante.

Escreveu Herbert: "A tendência de todas as grandes e complicadas criações é a de estabelecer uma classe governante, pois somente ela entende o funcionamento da sua criação, e somente ela é bem versada no hábito de controlar esta sua criação; e a tendência de uma classe governante engenhosa, uma vez estabelecida, é a de, em momentos críticos, poder fazer praticamente o que quiser com a nação..."

Em vez de resolver um problema social, a classe governante legou um efeito devastador sobre o bem-estar das pessoas comuns, as quais se tornaram "um confuso rebanho de cordeirinhos esperando por um cão pastor que os conduza através do portão." Ironicamente, ao alegar que o coletivo era superior, uma ínfima minoria passou a controlar a vasta maioria. Consequentemente, o "bem maior" passou a ser qualquer coisa que sirva aos interesses da classe governante.

Mas este processo ainda pode ser revertido. É necessário "individualizar" o coletivo e a nação de modo que "vontade, consciência e discernimento" retornem a cada indivíduo.

Quando isso ocorrer, a sociedade estará oferecendo às pessoas o mais nobre dos presentes e o maior dos benefícios: a sua própria responsabilidade individual.
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O que distingue as ciências sociais das naturais Empty Re: O que distingue as ciências sociais das naturais

Mensagem por Kusanagi Seg Ago 20, 2012 1:26 pm

Mais um artigaço.

A Escola Austríaca e a refutação cabal do socialismo
por Alceu Garcia, segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O fracasso do socialismo como princípio de ordenamento social é hoje evidente para qualquer pessoa sensata e informada — o que exclui, é claro, os socialistas. Estes, porém, insistem que o malogro coletivista foi um mero acidente histórico, que a teoria é fundamentalmente correta e que pode funcionar no futuro, se presentes as condições apropriadas. Tentarei demonstrar nesse texto, recorrendo na medida das minhas limitações aos ensinamentos da escola austríaca de economia, que absolutamente não é esse o caso, que a teoria econômica (para não falar dos fundamentos filosóficos, éticos, sociológicos e políticos!) do socialismo é insustentável em seus próprios termos, e que ipso facto os resultados calamitosos constatados pela experiência histórica são, e sempre serão, uma consequência inevitável de uma ordem (rectius: desordem!) socialista. Não é preciso enfatizar a importância de se ter plena consciência da natureza perniciosa dessa corrente política e de suas funestas implicações, uma vez que em nosso país um poderoso movimento totalitário está muito próximo de tomar o poder.

O erro dos clássicos

O núcleo do pensamento econômico socialista está na concepção do valor como decorrente do volume de trabalho necessário para a produção das mercadorias, e isso não só em Marx como também em outros teóricos como Rodbertus, Proudhon etc. Essa teoria do valor constitui a premissa elementar da qual a mais-valia e a exploração são deduzidas.

Marx, como se sabe, não inventou a teoria do valor-trabalho. Ela foi exposta bem antes por Adam Smith e David Ricardo e, dada a autoridade desses mestres, ganhou foros de ortodoxia. É difícil entender como esses dois pensadores notáveis, cujas descobertas foram realmente magníficas, puderam fracassar tão cabalmente justamente na questão crucial do valor. Talvez por causa dos avanços das ciências naturais, que estavam revelando propriedades antes insuspeitadas nas coisas, eles imaginaram que era mais "científico" considerar o valor também como um atributo da coisa.

Vários pensadores antes de Smith já tinham tido o insight correto: o valor das coisas depende da avaliação subjetiva de sua utilidade. O valor está na mente dos homens. Hoje se sabe que os filósofos escolásticos e os primeiros economistas franceses, Cantillon e Turgot, haviam concebido uma teoria econômica superior em muitos pontos a dos clássicos britânicos, sobretudo quanto ao valor. Smith e Ricardo, porém, puseram a economia na pista errada com uma teoria do valor falaciosa e, nesse aspecto, causaram um grave retrocesso no pensamento econômico.

Mas não por muito tempo. Enquanto Marx e outros pensadores socialistas faziam da teoria objetiva do valor a pedra fundamental de sua doutrina, diversos estudiosos já haviam constatado o desacerto dessa teoria e, independentemente, buscavam alternativas. Em todo caso, não seria exagero afirmar que Marx foi um economista clássico ortodoxo e que seus mestres, Ricardo em especial, podem ser considerados os fundadores honorários involuntários do socialismo "científico". Por ironia, o "revolucionário" Marx foi um conservador extremado em teoria econômica, enquanto que os economistas "burgueses" austríacos empreenderam uma verdadeira revolução nesse campo científico.

A redescoberta da subjetividade do valor

Vários economistas, entre eles o austríaco Carl Menger, chegaram basicamente à mesma conclusão que seus esquecidos antecessores pré-clássicos: o valor é subjetivo. A teoria subjetiva do valor — ou teoria da utilidade marginal — resolve o problema satisfatoriamente, sem deixar lacunas. O valor nada tem a ver com a quantidade de trabalho empregada na produção da coisa, mas depende de sua utilidade para a satisfação de um propósito de uma determinada pessoa. A utilidade decresce à medida que mais unidades de um dado bem são adquiridas, posto que a primeira unidade é empregada na função mais urgente segundo a escala de valores de cada um, a segunda unidade exerce a função imediatamente menos urgente etc.

Para um sujeito que já tem uma televisão, por exemplo, ter outra já não tem a mesma urgência — dito de outra forma, as TVs são idênticas, exigiram a mesma quantidade de trabalho na sua produção, mas não têm o mesmo valor. Cada indivíduo tem uma escala de valores diferente, e o que é valioso para um pode não valer nada para outro. Até para o mesmo indivíduo a utilidade — e daí o valor — de um determinado bem varia no tempo.

Isto posto, é fácil verificar que os preços refletem a interação entre ofertantes e demandantes, cada um com sua respectiva escala de valores. Compradores e vendedores potenciais expressam suas preferências no mercado, condicionadas por suas valorações pessoais e intransferíveis, e dessa interação surge uma razão de troca, um preço, que vai variando para igualar oferta e procura ao longo do tempo, de modo que em um determinado instante todos os que valoram o que querem adquirir (no caso a TV) mais do que o que se propõem a dar em troca (no caso um preço monetário x) conseguem comprar o produto.

O fabricante de TVs, segundo Marx, primeiro fabrica o produto e da quantidade de trabalho por unidade sai o valor e, consequentemente o preço. Isso é precisamente o inverso do processo real. Na verdade, o fabricante inicialmente faz uma estimativa de um certo preço que ele espera que atraia compradores e esgote o estoque — compradores que valorem mais a TV do que o dinheiro correspondente ao preço. Em seguida, ele calcula o custo de produção aos preços correntes e, se for suficientemente inferior à receita final prevista, aí sim ele contrata e combina os fatores de produção para obter o produto. Não é pois o trabalho ou de modo geral o custo de produção que determina o valor e o preço. É justamente o contrário: o preço projetado determina o custo de produção.

O emaranhado de falácias marxistas

Visando definir o valor com mais rigor do que Ricardo e levar a teoria às suas últimas consequências lógicas, Marx acaba demonstrando involuntariamente a invalidade das proposições pertinentes. Como seus antecessores, Marx distingue entre valor de uso e valor de troca. Para ele, as trocas só ocorrem quando coincide a quantidade de trabalho empregada no que se dá e no que se recebe. Só há troca, pois, nos termos marxistas, quando há coincidência de valor, que por sua vez é função do volume de trabalho dispendido. Ocorre que essa linha de raciocínio logo esbarra em um obstáculo insuperável: o trabalho é heterogêneo. Na ausência de homegeneidade, não há como tomar o trabalho como unidade de conta e medida de valor. Marx tenta superar o problema com os conceitos de trabalho "simples" e trabalho "complexo", fixando uma proporção entre eles, mas falha totalmente. Como os preços flutuam, Marx decreta que essas variações são ilusórias; o real é um certo "preço médio" que equivale ao valor, que equivale ao volume de trabalho dispendido na produção do bem.

Ao procurar fugir da rede de falácias que vai tecendo, Marx incorre em uma óbvia petição de princípio que até hoje engana os ingênuos: a medida do valor seria a quantidade de trabalho "socialmente necessário" para a produção de determinada mercadoria. Ora, só podemos saber o que é "socialmente necessário" investigando o que leva os indivíduos que compõem uma sociedade a valorar uma coisa o suficiente para que sua fabricação seja "socialmente necessária". Por que são produzidos mais CDs de axé do que de música clássica? Por que o pagode é mais "socialmente necessário" do que a música erudita? Porque há muito mais gente que gosta de pagode do que os que preferem música erudita.

Fica claro que o que foi dado como provado, que o valor depende da quantidade de trabalho "socialmente necessário", é precisamente o que se necessita provar. O que é "socialmente necessário"? É aquilo que os indivíduos desejam. Sendo assim, é evidente que temos que procurar o valor das coisas nas preferências individuais, não no custo de produção. Ademais, o trabalho não é o único fator de produção. Marx evidentemente sabe que o trabalho sem o fator terra — os recursos naturais — é inútil e vice-versa. Ele assevera que só o trabalho humano cria valor, pois a natureza é passiva.

Mas se o trabalho isolado é incapaz de criar valor, o que nos impede de afirmar que o valor depende da quantidade de recursos naturais "socialmente necessários" à produção disso ou daquilo? E, como toda produção demanda tempo, por que não pode ser o valor definido como a quantidade de tempo "socialmente necessário" para a fabricação de uma mercadoria? Nessa ordem de idéias, mais lógico seria conceber o valor como função da quantidade de trabalho, terra, tempo e capital "socialmente necessários" para a produção de um bem. No fim das contas, é isso mesmo que Marx faz no vol. III de O Capital, relacionando o valor ao custo de produção, contradizendo sua própria concepção do valor-trabalho exposta no vol. I.

Para a teoria subjetiva, todavia, não há mistério e não há exceções: o "valor de troca" não é função do trabalho ou do custo de produção, e jamais pressupõe igualdade de valor. Se eu dou tanto valor ao que me proponho a trocar quanto ao que me é oferecido, simplesmente não troco. Só há troca quando os valores são diferentes, quando cada parte quer mais o que recebe do que o que dá. O contrato de trabalho não foge à regra. Cada contratante valora mais o que dá do que o que recebe, logo não há exploração. De fato, provando-se a falsidade da teoria do valor-trabalho, invalida-se inexoravelmente a exploração e a mais valia, e todo o edifício teórico deduzido dessa teoria desaba como um prédio de Sergio Naya.

Ademais, baseando-se na "lei de ferro dos salários", segundo a qual sempre que a remuneração do trabalho subisse acima do nível de subsistência os "proletários" aumentariam a sua prole, trazendo os salários de volta para o nível de subsistência original, Marx assegurou que o capitalismo engendrava a miserabilização crescente do proletariado. T rata-se de uma tese contraditória em seus próprios termos, vez que se a tendência fosse a de que a remuneração do trabalho permanecesse estagnada num patamar de miséria não haveria uma miserabilização "crescente", e sim uma "miserabilidade constante".

Na verdade, o padrão de vida dos trabalhadores não cessou de aumentar nos países capitalistas avançados, o que é o resultado natural da liberdade individual de maximizar a utilidade — o valor — nas trocas livres, voluntárias e mutuamente benéficas travadas no que se chama economia de mercado. A consequente acumulação de capital investido per capita em grau maior do que o aumento demográfico da força de trabalho torna o trabalho cada vez mais escasso em relação ao capital — e os salários reais cada vez mais altos.

Marx, como é comum entre os intelectuais, odiava a divisão do trabalho. Mas foi o aprofundamento da divisão do trabalho que permitiu o aumento da produtividade do trabalho e o consequente aumento do poder aquisitivo real dos salários. O "alienado" operário que aperta parafusos na linha de montagem é recompensado pelo fato de que a produtividade do seu trabalho é tal que lhe permite adquirir produtos antes sequer existentes e ter um padrão de vida muito superior ao artesão autônomo do passado que controlava todo o processo de produção.

Marx acreditava que a livre concorrência levaria a uma superconcentração do capital. Na verdade, a concorrência força sem parar a redução de custos e preços, resultando em uma melhor utilização de recursos escassos e os liberando para emprego em novas linhas de produção. Marx não distinguiu o capitalista do empreendedor. Na realidade, capitalista é todo aquele que consome menos do que produz — que poupa. Hoje, nos países civilizados, os trabalhadores são capitalistas e suas poupanças reunidas em grandes fundos de pensão e investimentos capitalizam empresas no mundo todo. O empreendedor é todo aquele que vislumbra um desequilíbrio entre a valoração corrente de custos e preços futuros de um produto qualquer, e enxerga nele uma oportunidade de oferecer aos consumidores coisas que eles valoram mais do que o seu custo de produção. A figura do empreendedor é insubstituível — o estado não pode exercer esse papel. Isso os comunistas (e não apenas os comunistas!) puderam verificar na prática, para sua tristeza.

No sistema de Marx, como vimos, as trocas pressupõem igualdade de valor entre os bens negociados. Acontece que, como demonstrado acima, as trocas pressupõem precisamente o contrário: desigualdade de valor. Ou não há troca alguma. Assim, se a realidade se comportasse como na teoria de Marx, não haveria trocas. Na realidade, ninguém trabalharia sequer para si mesmo, posto que tal atividade envolve uma substituição de um estado atual considerado pelo agente como insatisfatório por um estado futuro reputado como mais satisfatório. Quer dizer, até o trabalho autônomo envolve uma troca e valores desiguais. O mundo de Marx seria povoado por seres autárquicos, autísticos e estáticos. Um mundo morto. Não admira que os regimes socialistas sofram invariavelmente de uma tendência para a completa estagnação e paralisia da atividade econômica.

A lei da preferência temporal

Outra descoberta fundamental, feita por um discípulo de Carl Menger chamado Eugen von Bohm-Bawerk, relaciona-se com a influência do tempo no processo produtivo. Ele percebeu uma categoria universal da ação humana: as pessoas dão mais valor a um bem no presente do que o mesmo bem no futuro, posto que o tempo é escasso, e logo é um bem econômico. Os indivíduos ao agirem elegem determinados fins e quanto mais cedo puderem alcançá-los, melhor.

Partindo desse axioma, ele obteve a explicação definitiva do fenômeno do juro, e mais, que o juro nas operações de crédito financeiras é um caso especial de um fenômeno geral. A produção demanda tempo; do início da produção até a venda do produto há uma demora, sem falar no risco de o produto não ser vendido. Ocorre que ninguém quer esperar até que a venda ocorra para receber sua parte no total — isso se a venda realmente acontecer, e o preço for recompensador. Os proprietários dos fatores de produção — os trabalhadores, os proprietários do espaço alugado, os fornecedores de insumos, os donos dos bens de capital — querem receber logo sua parte sem partilhar dos riscos. Dito de outra forma, eles preferem bens presentes a bens futuros. Mas os bens presentes sofrem um desconto. Daí receberem menos agora do que receberiam no futuro. Ficam livres do risco, que é assumido pelo empreendedor e pelos poupadores que lhe outorgaram seus recursos.

A parcela que um determinado trabalhador agrega ao produto final — o valor do produto marginal, como dizem os economistas — pode ou não ser remunerado integralmente. Há frequentemente casos em que o trabalhador recebe mais do que produziu, quando o preço não cobre os custos, o que não tem explicação pela teoria marxista. O capitalista paga a mais-valia ao proletário! O que é certo é que na economia de mercado há forças operando incessantemente para igualar o salário ao valor do produto marginal. Tanto o lucro quanto o prejuízo são sinais de desequilíbrio. Os prejuízos significam que os compradores não valoram um determinado bem mais do que o dispêndio mínimo corrente para produzi-lo. Os trabalhadores estão recebendo mais do que o seu trabalho produz. O empresário tem que reduzir custos para reduzir o preço do seu produto, ou quebra.

O lucro significa que os consumidores valoram um dado bem a um dado preço mais do que o custo de produzi-lo. Os trabalhadores estão recebendo menos do que o valor do produto marginal. Isso quer dizer que os compradores querem mais desse produto. O retorno alto atrai a concorrência, o que aumenta a demanda por fatores de produção — trabalho incluso — e faz cair o preço pelo aumento da oferta do produto. A taxa de lucro baixa e os salários tendem a igualar o valor do produto marginal, descontada a taxa social de preferência temporal — o juro.

Marx nunca compreendeu — ou não quis compreender — que o empreendedor é um preposto dos consumidores e que são estes quem determinam indiretamente o nível de remuneração dos fatores de produção — salários inclusos. A tarefa dos empreendedores é satisfazer os caprichos dos consumidores. Nessa função ele deve assumir riscos pois o futuro é sempre incerto. Nota-se, pois, o absurdo da condenação da produção "para o lucro" pelos marxistas vulgares e sua veneração pela produção "para o uso". Sucede que toda produção sempre tem por fim o consumo, i.e., o uso. A produção não é um fim em si mesmo, e sim um meio para se alcançar um fim: o consumo. O lucro e as perdas monetários são sinais fundamentais que orientam os empresários a organizar eficientemente a produção de modo a satisfazer os usos mais urgentemente desejados pelos usuários (pressupondo-se a ausência de privilégios concedidos pelo governo aos produtores em detrimento dos consumidores, tais como tarifas, monopólios, subsídios, licenças etc).

A lei da preferência temporal exerce um papel determinante no processo produtivo. Se todos os proprietários de fatores (os empregados donos de sua força de trabalho, os fornecedores de insumos, o proprietário do espaço onde a fábrica ou loja se situa, os capitalistas) decidissem partilhar do risco e aguardar até a efetiva venda do produto final total para então dividirem pro rata a receita total, todos eles seriam empreendedores. Como, porém, o ser humano prefere o mesmo bem agora ao futuro (que é sempre incerto), surge a necessidade social de que um indivíduo, ou grupo de indivíduos reunidos (empresa), exerça essa função empreendedorial, que é absolutamente indispensável para o progresso da sociedade.

O empreendedor, assim, paga agora aos proprietários de fatores com bens presentes em troca de receber os mesmos bens (dinheiro) no futuro, correndo o risco de não receber. Esse desconto dos bens presentes em termos de bens futuros, como já assinalado, é o que se chama de juro.

A impossibilidade do cálculo econômico no socialismo

Tendo demonstrado satisfatoriamente que a crítica marxista ao capitalismo é inteiramente equivocada, resta empreender por nosso turno a crítica ao sistema socialista, conforme idealizado por Marx, seus sucessores e outras correntes socialistas. Esse sistema exige a propriedade pública dos meios de produção — terra, trabalho e capital — e o consequente planejamento central de todas as atividades econômicas.

A primeira objeção que vem à mente é a questão dos incentivos: quem planeja e quem obedece às ordens do planejador ou planejadores? Quem determina o padrão de remuneração dos serviços e que padrão é esse? Numa sociedade que se presume igualitária, a remuneração deve ser igual para todos os tipos de trabalho? Nesse caso, o neurocirurgião terá o mesmo incentivo para exercer suas funções que o lixeiro? Segundo os marxistas, cada um contribui para a coletividade segundo as suas possibilidades e recebe de um fundo comum segundo suas necessidades. Já é possível até aqui imaginar a complexidade do problema.

Pois um discípulo de Bohm-Bawerk, Ludwig von Mises, foi mais além, atingindo a raiz do problema do socialismo, que é ainda mais profunda do que a complicação dos incentivos permite vislumbrar. Mises descobriu que a atividade econômica em uma economia complexa depende de um cálculo prévio que leve em conta os preços monetários dos fatores de produção. Impossível esse cálculo, impossível a atividade econômica.

Ocorre que, em uma sociedade socialista pura, todos os fatores de produção pertencem a um único dono: o estado. Sem propriedade privada, os fatores de produção não são trocados e, logo, não têm preço. A escassez relativa dos fatores de produção e seus usos alternativos fica oculta e o planejador central inexoravelmente é levado a agir às cegas. Mises admitiu, para argumentar, que a questão dos incentivos não apresentasse nenhum obstáculo, que todos se empenhassem diligentemente em suas tarefas. Ou seja, postula-se que a natureza humana seja aquela que os teóricos socialistas quiserem que ela seja, não o que ela de fato é. Mesmo assim, na ausência de preços para os fatores de produção, o cálculo econômico é impossível e a atividade econômica se torna caótica, vez que não se pode discernir entre os vários tipos de combinação de fatores aquele que é o mais econômico.

Dado um determinado estado de conhecimento tecnológico, sempre existem inúmeras maneiras de se empreender um projeto econômico qualquer, digamos uma siderúrgica, mas somente se a escassez relativa dos fatores de produção for expressa em preços monetários será possível escolher dentre as soluções técnicas possíveis aquela que é mais econômica, ou seja, a que representa os menores custos em relação ao preço futuro do produto final, e só assim será possível avaliar ex ante se o projeto sequer é economicamente viável no momento.

Como nada disso é a priori possível em uma sociedade socialista, todos os empreendimentos tocados pelo estado não passam de um gigantesco desperdício de recursos que mais cedo ou mais tarde leva ao colapso econômico. A experiência comunista comprovou tudo isso, muito embora não tenha nunca existido uma sociedade socialista realmente pura. A URSS podia usar o sistema de preços do mundo capitalista como referência e copiar seus métodos de produção, e um florescente e gigantesco mercado negro supria até certo ponto as monumentais falhas do planejamento estatal. Mesmo assim, a economia soviética sempre foi um caos. Funcionou por algum tempo graças ao uso sistemático do terror como "incentivo". Mas o terror não pode durar para sempre. Quando arrefeceu, foi-se o incentivo e a economia comunista anquilosou rapidamente e morreu.

A natureza dispersa do conhecimento

A crítica de Mises publicada em 1920 causou consternação na intelligentsia socialista. Ao menos o desafio foi levado a sério e muitas respostas foram aventadas. Nos anos 1930, alguns economistas socialistas (Oskar Lange, Abba Lerner) formularam a teoria do "socialismo de mercado", baseada nas idéias do economista do século XIX Léon Walras, que concebeu um método de equações matemáticas capazes de permitir a compreensão do estado geral de equilíbrio de uma economia. Tudo o que se fazia necessário, pois, era outorgar certa autonomia aos gerentes das unidades produtivas de modo que igualassem o preço do produto ao custo marginal para que o comunismo funcionasse tão bem como o capitalismo.

Muitos economistas liberais eminentes, como Joseph Schumpeter e Frank Knight, aceitaram a validade dessa solução e se convenceram de que não havia obstáculos econômicos ao socialismo. Ainda outro economista austríaco, contudo, Friedrich Hayek, discípulo de Mises, desenvolveu certos aspectos implícitos na análise de seu mestre para refutar a "solução" socialista. O esquema walrasiano padece de um defeito fatal: é estático. O conhecimento técnico, os recursos e as informações são considerados dados no sistema. Hayek argumentou que o conhecimento é disperso na sociedade e a sua utilização racional é levada a efeito por cada indivíduo traçando seus próprios planos segundo circunstâncias personalíssimas e intransferíveis. O mercado coordena esses planos espontaneamente, sobretudo por intermédio do sistema de preços, de forma muito mais racional e útil do que um planejamento central poderia esperar fazer. O planejamento central implica a supressão dos planos individuais. Os indivíduos tornam-se instrumentos do planejador central, mas esse não pode ter jamais a esperança de coordenar a produção racionalmente. O estado de equilíbrio é uma quimera que não tem lugar no mundo real, dinâmico por natureza, e o conhecimento, as oportunidades e a informação nunca estão "dados". Ao contrário, estão sendo incessantemente criados e ampliados através das iniciativa individuais e suas interações.

Mesmo assim, Mises e Hayek foram tidos como refutados e relegados ao ostracismo pela comunidade dos economistas. Mises morreu esquecido em 1973, mas Hayek viveu o suficiente para rir por último quando o comunismo soçobrou e todas as análises de ambos se revelaram certas. Ele morreu em 1992, após testemunhar a queda do Muro de Berlim e o colapso soviético.

Conclusão

Provar que na economia de mercado não existe mais-valia nem exploração, todavia, não é o mesmo que dizer que a exploração não existe. Existe. Ela ocorre quando somos forçados a dar alguma coisa em troca de nada, como no caso dos tributos recolhidos pelo estado. O estado é a máquina perfeita de exploração. E o marxismo, por conferir um poder absoluto ao estado, é o veículo insuperável da exploração sistematizada.

A doutrina socialista por ser intrinsecamente falsa leva inevitavelmente a uma perversão e inversão do sentido das palavras, como notou Orwell — por ironia ele mesmo um socialista convicto. Liberdade é escravidão e escravidão é liberdade; democracia é ditadura e ditadura é democracia; cooperação voluntária é coerção e coerção é cooperação voluntária. O estado socialista é dono de tudo, o que traduz a triste realidade de que os que comandam o governo são os senhores implacáveis, os proprietários absolutos dos comandados. Socialismo é mais do que uma restauração da escravidão; é seu aperfeiçoamento e culminância.

Vale lembrar ainda que a análise acima vale para qualquer espécie de socialismo, seja o comunismo (socialismo de classe), nazismo (socialismo de raça) ou fascismo (socialismo de nação).

Tudo o que foi exposto aqui é conhecido há décadas. Contudo, pouca gente sabe pois a intelligentsia de esquerda bloqueia a sua divulgação. É uma vergonha, pois uma das tarefas principais dos intelectuais — os que se dedicam ao estudo das idéias — deveria ser justamente a de esclarecer a sociedade a respeito das idéias certas a serem adotadas para o bem comum, e advertir do perigo de se aceitar teorias erradas. Mas não é isso que acontece, infelizmente.

Parece que os intelectuais sofrem de uma propensão irreprimível para o socialismo, certamente porque nele vislumbram a chance de empalmar o poder absoluto em causa própria. Em termos marxistas, o próprio marxismo não passa de ideologia, a falsa consciência, que uma classe — a intelligentsia — difunde em função de seus próprios interesses. Essas falsas idéias se propagam e iludem — alienam — as futuras vítimas da classe "revolucionária". É um dever inadiável de todo cidadão consciente denunciar esse esquema podre, desmascarar a falácia socialista e esclarecer a opinião pública na medida de suas possibilidades.
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Mensagem por Kusanagi Qua Ago 22, 2012 7:41 pm

Entendam esse fenômeno que muitos (quase todos) consideram um absurdo.

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Mensagem por Kusanagi Ter Ago 28, 2012 10:40 am

Uma fábula genial que explica a imbecilidade, a injustiça e a ineficácia (no longo prazo) da idéia de redistribuir renda, e o melhor de tudo, que é "Bebum Friendly".

A Justiça Social:

Era uma vez dez amigos que se reuniam todos os dias numa cervejaria para beber e a conta era sempre de 100 reais.

Solidários, e aplicando a idéia da "justiça social", resolveram o seguinte:
- os quatro amigos mais pobres não pagariam nada;
- o quinto pagaria 1 real;
- o sexto pagaria 3;
- o sétimo pagaria 7;
- o oitavo pagaria 12;
- o nono pagaria 18;
- e o décimo, o mais rico, pagaria 59 reais.

Satisfeitos, continuaram a juntar-se e a beber, até ao dia em que o dono da cervejaria, atendendo à fidelidade dos clientes, resolveu fazer-lhes um desconto de 20 reais, reduzindo assim a conta para 80 reais. Como dividir os 20 reais por todos?

Decidiram então aplicar a idéia de distribuição igualitária, dividindo os 20 reais igualmente pelos 6 que pagavam, cabendo 3,33 euros a cada um. Depressa verificaram que o quinto e sexto amigos ainda receberiam para beber.

Gerada alguma discussão, o dono da cervejaria propôs a seguinte modalidade que foi aceita:

- os cinco amigos mais pobres não pagariam nada;
- o sexto pagaria 2 euros, em vez de 3, economia de 33%;
- o sétimo pagaria 5, em vez de 7, economia de 28%;
- o oitavo pagaria 9, em vez de 12, economia de 25%;
- o nono pagaria 14 euros, em vez de 18, economia de 22%.
- o décimo, o mais rico, pagaria 50 euros, em vez de 59 euros, economia de 16%.

Cada um dos seis ficava melhor do que antes e continuaram a beber.

No entanto, à saída da cervejaria, começaram a comparar as economias.

- Eu economizei apenas 1 real, disse o sexto amigo, enquanto você, apontando para o décimo, economizou 10! Não é justo que tenha economizado 10 vezes mais!
- E eu economizei apenas 2 reais, disse o sétimo amigo, enquanto você, apontando para o décimo, economizou 10! Não é justo que tenha economizado 5 vezes mais!

E os 9 em uníssono gritaram que praticamente nada pouparam com o desconto do dono da cervejaria. "Deixamo-nos explorar pelo sistema e o sistema explora os pobres", disseram. E rodearam o amigo rico e maltrataram-no por os "explorar".

No dia seguinte, o ex-amigo rico "migrou" para outra cervejaria e não compareceu, deixando os nove amigos beber a dose de costume. Mas quando chegou a hora do pagamento, verificaram que só tinham 31 reais, que não dava para pagar nem a metade da conta!

Aí está o resultado do sistema de impostos e as conseqüências da "justiça social". Os que pagam taxas mais elevadas cansam-se e vão começar a beber noutra cervejaria, noutro país, onde a atmosfera seja mais amigável, e os que se beneficiavam da presença dessas pessoas deixarão de se beneficiar.
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Mensagem por Kusanagi Ter Ago 28, 2012 10:44 am

Por incrível que pareça, tem a ver com o tópico! Se alguém se interessar em saber o porquê, e não entender de cara, me pergunta que eu explico:

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Mensagem por S3teiro Qui Ago 30, 2012 2:47 pm

Kusa, sei quase nada sobre administração, nem quando tive essa disciplina, quis aproveitar =)

Porém, me explica se o fato da justiça social não era a melhor solução na divisão de valores? O melhor seria excluir os amigos que não podiam pagar?

Sobre a aple, atualmente ela perdeu em primeira instância a disputa contra a samsung sobre cópia... apesar de concordar que o Jobs "só" fazia ver o movimento do mercado para lançar na hora perfeita os produtos que copiava.
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Mensagem por Kusanagi Qui Ago 30, 2012 4:25 pm

S3teiro escreveu:Kusa, sei quase nada sobre administração, nem quando tive essa disciplina, quis aproveitar =)

Na verdade isso extrapola em muito a administração, eu classificaria isso como teoria econômica aplicada à filosofia social. XD

S3teiro escreveu:Porém, me explica se o fato da justiça social não era a melhor solução na divisão de valores? O melhor seria excluir os amigos que não podiam pagar?

Me diz uma coisa, quando tu vai com seus amigos no boteco, como vocês fazem? Vocês dividem a conta dessa maneira louca aí, ou cada um paga a sua parte, ou uma fração da conta equivalente à sua participação? Por exemplo, se eu vou com 5 amigos ao bar, nós sempre dividimos a conta por 6 e cada um paga 1/6, sem ninguém querer saber quem ganha mais ou quem ganha menos. Em situações especiais, uma pessoa VOLUNTARIAMENTE paga uma rodada de chope pra galera, ou até mesmo a conta toda, mas esses casos costumam ser exceções.

Quando saímos do mundo real e vamos pra política, o estado força quem ganha mais a pagar mais pelos serviços públicos. Obviamente quem ganha menos costuma ser uma maioria beneficiada, que apoia todo e qualquer esforço do estado em tirar dinheiro dos mais ricos pra pagar a conta dos mais pobres. No caso, as contas dos hospitais (públicos), escolas (públicas), segurança (também pública), manutenção das ruas, etc.

O que essa alegoria mostra é que, da mesma maneira que se esse conceito de distribuição de renda for utilizado numa mesa de bar, os amigos ricos vão cair fora, quanto mais políticas de redistribuição de renda o governo fizer, mais os ricos vão cair fora do país, indo pra países em que seus respectivos governos deixem eles ganharem seu dinheiro honesto em paz.

Note que normalmente as pessoas mais ricas são as que mais beneficiam a sociedade simplesmente fazendo seu trabalho. Por exemplo, médicos são muito bem remunerados porque eles ajudam as pessoas a viverem mais e melhor. Empresários ganham dinheiro porque eles vendem pra muitas pessoas produtos que vão, de uma forma ou de outra, melhorar a vida delas. Cantores e bandas famosos enriquecem porque eles proporcionam momentos de alegria - embora momentos pequenos e de curta duração - pra um número enorme de pessoas. Note que tanto músicos famosos quanto empresários costumam ser bem mais ricos que médicos, mesmo que seus serviços sejam menos importantes (em princípio), mas eles ganham pouquinho dinheiro de milhares de pessoas, ao passo que um único médico pode atender a um número relativamente pequeno de pacientes. Ao mesmo tempo, um médico costuma empregar só uma secretária, ao passo que músicos empregam equipes de produção, gravação, sonorização etc. E empresários costumam empregar de poucas pessoas (em caso de pequenas empresas) até centenas de milhares de pessoas (grandes multinacionais), sendo todos esses beneficiados.

Lembrando a parábola do bar, quando o amigo rico mudou de bar, toda a galera que era beneficiada por ele sequer passou a conseguir pagar a conta. A consequência de se desestimular politicamente o enriquecimento e de se praticar políticas que cada vez mais distribuam renda é exatamente essa: redução dos empregos oferecidos e consequentemente da renda dos mais pobres.

Outra conclusão interessante que esse raciocínio nos induz é que o grande problema do mundo não é a distribuição desigual de renda, mas a pobreza. É só pensar que todo mundo preferiria viver num mundo em que o menor salário fosse R$ 5.000 e o maior fosse R$ 50.000.000,00 do que em um mundo em que o menor salário fosse R$ 500,00 e o maior R$ 800,00. Esses números são coerentes com a realidade, pois quanto mais dificuldade se criar pras pessoas enriquecerem, menos ricos haverá no país, e a população toda será empobrecida com isso.

S3teiro escreveu:Sobre a aple, atualmente ela perdeu em primeira instância a disputa contra a samsung sobre cópia... apesar de concordar que o Jobs "só" fazia ver o movimento do mercado para lançar na hora perfeita os produtos que copiava.

Cara, a discussão sobre "propriedade intelectual" é extremamente controversa. Eu sempre fui contra direitos autorais e hoje sou ainda mais. A única foda que eu ainda não consegui resolver nesse quesito é sobre pirataria de software que, por mais que eu a defenda, sei que não haveria software se as empresas não tivessem direitos de propriedade sobre seu próprio produto. Ninguém compraria software original se não pudesse ser multado e/ou preso por isso, e os amigos ricos que fazem software mudariam de bar. Smile Pelo menos em uma análise superficial... talvez a realidade não fosse exatamente essa.

Agora a questão da Apple é bem pior. Ela está usando o estado - que lhe concedeu patentes - para impedir outras empresas (nesse caso tratado, a Samsung) de fazer algo que caso não existisse o estado, nada seria capaz de impedí-la de fazer. Pode ver que as empresas chinesas copiam descaradamente e ela não faz nada. Não porque isso não ameaça o mercado dela, é porque o governo da China CAGA E ANDA pra patentes e propriedade intelectual mesmo.

Se essa opressão de patentes continuar, e a Apple ganhar tudo o que ela sonha, o que veremos é ela assumindo um monopólio ilegítmo, concedido pelo poder das armas do estado, que deveriam servir pra defender os cidadãos contra agressores, não para aparelhar agressores como a Apple. O que ela fez foi malandramente patentear um design que ela copiou primeiro. Acho que ela merece ser denunciada por todos os canais e que o ódio a essa empresa deve ser espalhado pelos quatro cantos do globo! Eu já nunca gostei dela, mas pensava em comprar um Mac Book Air porque ainda não vi um UltraBook que tenha placa de vídeo decente. Desisti! Quero mais que esses filhos da puta vão à falência de vez.

Olha só mais uma das piadas feitas sobre esse caso:

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Abraços!
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